domingo, janeiro 07, 2007

Suave Veneno

§Vengeance§: Apenas me leve adiante, pra longe deste ponto, pra perto do cimento dos prédios altos.De lá, eu a guiarei com os meus olhos, criança da Tristeza....*Com cuidado a mão fria tocou o ombro dela, apoiando os dedos que se entranhavam sem força na carne viva e soluçante, tremula pelo frio da falta da água que há pouco havia cessado.Dava pequenos passos, certos, firmes e sem medo, sem titubear,apertando a mão vazia contra o bolso da calça, enquanto o rosto erguido, ainda escorria as gotas frias da chuva de outrora, dando vida ao rosto belo, porém tão frio.*

§Sadness§: *ela sentia a mão de Vengeance em seu ombro. Uma mão fria devido à chuva que ambos tomaram. Ainda continha o choro que parecia tão difícil de segurar... Alguns soluçares com o rebuscar do ar apenas a acompanhavam em seus passos. Sua pele sentia frio, aos poucos abraçava o próprio corpo, dando os primeiros passos inseguros. Inseguros por ela, inseguros por ele que não possuía o dom da visão. Mas Sadness não achava que ele seria fraco diante dela, não depois de tamanha força que ele demonstrou ter para alguém que não possuía visão e poderia ser muito mais triste do que ela e não o era. Levava-o para longe daquele ponto em que eles se encontravam. Levava-o mais adiante para o ponto que ele pediu e que ele disse que poderia guiá-la. Talvez ela fosse a verdadeira cega, por não conseguir ver os caminhos que devia ter seguido antes de se encontrar naquele estado que a tornara tão frágil. Mordia os lábios tentando desvencilhar os pensamentos por vezes olhando para trás levemente vendo que ele mantinha o rosto erguido com aspecto tão frio.. Quando ela os mantinha seguros até que seus lábios trêmulos pudessem dizer* Seria este o local que você pediu para que eu o trouxesse?

§Vengeance§: *Devagar ele desvencilhou os dedos do corpo dela, frágil naquela concha chamada carne e caminhou para frente sem medo, como se o caminho fosse conhecido para os pés, pois qualquer um que não o soubesse, jamais diria que seus olhos não continham vida.*Diga-me.... O que vê? Descreva com riqueza de detalhes cada pequena dobra que houver aqui e quando terminares, direi para onde irás...*Voltava o rosto belo em direção á ela, o sorriso nos lábios, sem que ninguém soubesse dizer se era de sarcasmo ou marotisse.Os olhos claros, piscavam vivos, enquanto a língua traçava os lábios, em seu contorno perfeito.*...Ainda noto. Temes a mim, ou a si própria? Decida a quem inspirar medo, Criança para que possa ajudá-la mais rápido.

§Sadness§: *ela olhava-o passando diante dela, já não sentia mais o contato da mão dele sobre o ombro. Via-o naquela certeza de um predador que conhece bem o território ou algum que conhecia melhor o local que morava do que muitos que por ali passaram e jamais reparou em detalhes, ele pedia descrição do lugar com os detalhes. Detalhes de cada pequena dobra. Temia não poder descrever com tanto detalhe, temia confundir Vengeance com a forma que ela via o mundo pintado nas cores de olhos que viam apenas tristeza no mundo. Via-o sorrindo e ela desvencilhava os olhos enquanto ele contornava os lábios com a ponta da língua como se a umedecê-los para trazer as próximas palavras que pareciam querer ajudá-la, mas ele não iria a deixar mais triste quanto tantos outros a deixaram? Ela olhava ao redor.. Precisava responder a duas coisas naquele momento, por onde começar?* temo a mim... *responde de forma baixa olhando ao redor* Vejo com meus olhos um prédio que toca o céu. Céu que chorou suas mágoas em uma noite sombria. *ela suspira tocando a mão no prédio. Cinza ele poderia ser se em outro local estivéssemos, mas a cor bege, mescla-se com tons marrons mais fortes como se a invejar o verde que provém do parque. *ela desliza as pontas dos dedos sobre as paredes do prédio, sem olhar para Vengeance, deixando seu olhar se perder nas ranhuras da parede* Nem só de ladrilhos são feitos os prédios, pois este possui uma tintura texturizada que poderia me lembrar as pequenas ranhuras de troncos de árvores e não mais que trinta passos devemos estar da esquina que levará a um beco. Dez passos, acho eu... Deve ser a distância entre um prédio e o outro.Onde o próximo prédio mais invejoso possui mármores negros e detalhes dourados... *suspira e afasta a mão do prédio mordendo os lábios e balançando a cabeça em negação* Me perdoe... Nem mesmo se eu quisesse poderia pintar os mais ricos detalhes que este local parece ter...

§Vengeance§: Você não os vê....*Gargalhou o jovem, cujos dentes brancos agora pareciam agressivos na risada solta, como presas de serpente prontas ao bote sobre a garota.* Você os olha com os olhos que lhe deram, os olhos que aprendeu a ter...Mas tente olhar pelo outro ângulo, de outra forma....*Nada mais que três passos ele deu, antes de alcançar o queixo de Sadness com os dedos e erguê-lo, na direção do topo dos prédios, onde o céu cinza estava ali, ainda ameaçador, tomando a noite para si.* Se fechar os olhos por um momento, poderá usar arma maior.Outros olhos, olhos que você ainda não abriu....Com estes olhos não chorará pelo passado triste, muito menos olhará rostos que não lhe olham em retorno...Verá o infinito. Feche-os, Criança...feche-os...*Com a ponta dos dedos, a mão direita pousou sobre os olhos da jovem, fechando-os com cálido movimento, como uma criança faria, anunciando uma surpresa aos pais.* Imagine-se lá...em cima... No topo do prédio cujos andares são como troncos de árvore nua.Toque-o...*Puxava-a levemente, um passo ou dois, para que tocasse a fachada do prédio de texturas e sentisse o calor que a pedra ainda guardava do sol saudoso.*....Veja agora como se torna baixo, como uma pequena árvore fácil de se subir, de galhos baixos...Suba nela.Vê as folhas.....*A voz de Vengeance transformara-se num sibilo morno, colocado à ponta da orelha da garota, baixinho, rouco, apenas a lhe proporcionar aquele quadro pintado na mente.*...Toque as folhas se quiser...São feitas de cimento e aço.Mas pintadas de verde, não parecem tão pesadas, não?E se olhar daqui onde está,você verá....*Levemente a presença de Vengeance se desfazia, como se fosse uma divindade a evanescer.Dava alguns passos para trás e a deixava sozinha*...Abra os olhos Criança e veja o mundo como deve ser daqui para frente....*Se Sadness abrisse seus olhos, se depararia com a cidade vista de cima.Como havia chegado lá?Estava no alto do prédio em tons de bege, sentindo o vento no rosto molhado, com os pés apoiados no parapeito de metal , equilibrando-se no vazio.*...Assim é que deve ver.

§Sadness§: *ele a censurava, era claro que ele a censuraria como muitos outros a censuravam por conta de suas fraquezas, dizia para ela olhar por outro ângulo, olhar de outra forma. Por um momento os olhos dela lacrimejam, mas logo sentia a mão de Vengeance alcançar-lhe o queixo e erguer sua cabeça em direção ao topo dos prédios. Seus olhos viam aquele céu tão obscuro e que ainda possuía os tons que a levaram para aquele parque, sentia aquele lacrimejar escapar de seus olhos e contornar a sua face. Ele falava sobre outros olhos, olhos que ela não iria chorar pelo passado ou pelos rostos que ela ansiava ver novamente e que eles tão pouco pareciam ansiar pelo mesmo. Seus olhos se fecharam apenas quando a mão de Vengeance repousou sobre os olhos que ainda se perdia nos reais motivos de sua tristeza. Era um toque suave e cálido. Que vinha acompanhado das palavras sibilantes como uma cobra a hipnotizar a sua presa, era conduzida por ele até sentir a mão que tocava o prédio, que para ela era tão frio em suas cores que pareciam invejar o parque e que com os olhos fechados, e mergulhada naquele mundo vazio e negro que Vengeance a submetia, parecia ser tão morno à ponta de seus dedos, seu coração disparava, enquanto escutava aquela voz baixa e rouca. ele comparava o prédio a uma árvore de fácil escalada, parecia conseguir fazer-la sentir o que ele queria que ela sentisse.. A presença dele desaparecia, como alguém que brincasse de cabra-cega e parasse de guiar com a voz quem estava com os olhos vendados.. Ele falava para ela abrir os olhos, dizendo como ela deveria ver o mundo e ela abre os olhos e se assombra com o que via. * Não.. Não.. *ela levava as mãos ao rosto fechando os olhos, mesmo com todas aquelas sensações, mesmo parecendo tão real, não era possível aquilo. Seu coração disparava e ela sacudia a cabeça com os olhos fechados.. Estava assombrada, não aceitava ver o que viu. Não era possível.. Não era possível eles estarem lá em cima* por que me ilude desta forma? *A garganta parecia se apertar com o choro que se mantinha contido desde que ela atravessara a pista para levar Vengeance até ali*

§Vengeance§: *A risada curta vinha das costas, de trás, onde os olhos dela não poderiam ir, sem que o corpo desse um giro e arriscasse a queda.* Não se mova, Criança.Poderá cair e mergulhar novamente em seu choro tolo, nas tristezas que deixa consumir ...Deixe isto para trás.Olhe, enfrente as alturas que lhe concederei...*Um breve toque ao lado do corpo, indicava para Sadness que ele estava ali, próximo, presente, não Onipotente e único, como um deus a brincar com suas ilusões. Não. Não havia brinquedos, apenas peças em um tabuleiro.*...Não jogo ilusões. O que vê é real. Teu corpo inerte jamais perceberia a sutileza de meu andar, a rapidez da salvação que tenho para ti... A altura é o que lhe aguarda, o topo da vida, as felicidades, a colheita dos frutos que a sua bondade devia ter colhido outrora... Olhe, Criança, o que lhe ofereço... *Como o vento, na altura, a mão tomou a dela com cuidado.Não havia mais a brisa fria do último andar aberto, nem a falta de equilíbrio latente. Se Sadness abrisse os olhos, não haveriam saído da calçada, onde a parede bege do prédio ainda estava morna e presa entre os dedos da mão esquerda dele.*

§Sadness§:*ela estava assustada com tudo aquilo, sua mente não se permitia acreditar naquela impossibilidade. Ela estava delirando, vivendo um mundo de ilusões. Manipulada por Vengeance de uma forma cruel e sádica. Era tão fácil dar um passo e terminar com toda aquela tristeza, com toda aquela angústia. Mas ele tomava sua mão. Tomava-a para ele naquele momento em que a fraqueza parecia estar tão latente com aquelas promessas.. falsas promessas que ele fazia. Sadness fechava os olhos, remoendo as palavras de Vengeance, sentindo a brisa dissipar. Sentindo novamente o solo que parecia tão firme sob seus pés e quando abria os olhos novamente, poderia ver o mesmo prédio em que elees estavam logo à frente. aquela parede bege que ainda continha o calor que o sol ali depositou. Sadness soltava a sua mão da mão de Vengeance e se virava para ele* A felicidade caminha ao lado da tristeza e por mais que eu tente esquecer tudo que me trouxe a trsiteza, estas questões sempre voltam a minha mente. Você me promete a altura. O céu que você pode me fazer tocar, mas está mergulhado em um mundo tão sombrio quanto o meu e está tão perdido quanto estou. 8ela abaixa então o rosto, tentando engulir a tristeza que assolava sua alma e que a cegava para o mundo que a rodeava*

§Vengeance§:*Os olhos baixos dele sequer demonstravam alguma mudança, de tons ou cores, como fazia ás vezes.Estava ali, próximo, impertubávl como sua própria essência e seu senso de justiça....cego.* Então me diga, onde estará a Felicidade que deveria caminar ao teu lado?Pois a tristeza está em suas veias, em seus olhos e em sua voz lacrimosa e trêmula.Está enraizada na tolice que diz ao lembrar-se sempre da dor...Dor...Por que assola a alma tão frágil desta criatura? *Sorria, malicioso,denso, erguendo o rosto belo para o céu acima deles, que á pouco parecia tão próximo.Fechava os olhos aos poucos, com umc urto movimento de voltar a fitar a jovem próxima, como se tivesse finas lãminas em cada pupila.* Tola... Não a ajudarei mais.Viva sua trsiteza enlameada na qual está atolada até o pescoço.Voce não merece a felicidade, nem a confiança que lhe dei.... *Devagar ele girava o corpo, ajeitando as roupas úmidas e dando curto passos, tateando a parede morna para se encontrar.*

§Sadness§:*ela escutava aquelas palavras que ele dizia com tanto imponência. Dizia que ela era tola por estar mergulhada naquela tristeza que assolava sua alma e seu coração. Dizia que ela não era digna da confiança que ele deu a ela ou da felicidade que ele tinha a ofertá-la e quando ele se retirava, Sadness olhou para ele em seus olhos lacrimejantes se retirando dali. Cego em seu corpo físico e cego em seu senso de justiça* A Felicidade caminhará ao meu lado. Mas apenas quando eu vencer meus próprios demônios. Não posso aceitar os demônios de outras pessoas, pois a felicidade que surgirá, não será a minha felicidade, mas a sua felicidade.. *falava em tom fraco.. engulindo um pouco daquele choro, pensando que ela tinha procurado por alguma ajuda, mas no fundo ela sabia que não podia viver em um mundo de ilusões, pois ela já tinha vivido bastante naquele mundo. Sadness então deixa o corpo deslizar na parede... deixando as lágrimas rolarem.. Buscando no céu que esteve tão próximo a ela, as respostas que estavam guardadas em sua alma sombria*