sábado, março 27, 2010

Orgulho

— Você não deve demonstrar intimidade! – Gritou a Razão.
“Você está errada, sem intimidade, não sei como agir” – Retrucou em pensamento o Orgulho, pois ainda não era momento de mostrar sua cartada final.
— Desconfio de suas palavras e acho que está mentindo! Tenho certeza de que não é verdade aquilo que aconteceu. – Vociferou mais uma vez a Razão.
— Você não tem idéia – sibilou baixo o Orgulho, ainda aguardando o momento certo para fazer seu movimento.
— Parabéns! Sua incompetência me espanta, achei que você fosse mais sagaz! – Ironizava a Razão.
“Tente ser competente, quando alguém tirar sua autoridade na frente de todos, mas pouco importa, pois quem semeia o Caos mais tarde colherá a Anarquia.” – Tremia de raiva o Orgulho em seus pensamentos, pois era chegada a hora e mais doce ficaria a resposta, deixando para o dia seguinte.
— O que é isso? – Mostrou temor, mas também raiva. A Razão tão imperiosa em certo ponto já desconfiava.
— Não ficarei mais com isso – Falou em tom sério o Orgulho, ao entregar a confiança alheia que ostentou um dia.
— Não volte mais aqui! Não preciso de você! – gritou a razão com ódio, sem pensar direito naquelas palavras que proferia.
O Orgulho verteu algumas lágrimas de dor, de incredulidade, mas também de sagacidade e o doce gosto de vingança que ainda viria. Havia raiva, seu pranto não remetia a angústia que alguns conheciam. Não era chateação pela falta de reconhecimento, mas chateações mais aprofundadas que não devem vir ao caso.
— Eu não tinha idéia que você não queria isso. Volte... Seu lugar ainda lhe pertence... – Veio a voz arrependida da Razão, logo no primeiro dia.
Orgulho sorriu, ainda fechando as estocadas que tomara em menos de um mês, sem dar à Razão a resposta que ela tanto desejava.
— É; não venha mesmo. Eu dou conta de tudo. Posso me virar sem você. — Respondeu amarguradamente a Razão ao ver que o Orgulho não mais voltaria.
O Orgulho, mostrando o ar superior, as chamas esverdeadas em seus olhos e a seriedade em sua voz, resolvera sibilar mais uma vez:
— Quando acertaremos tudo?
Era visível aos olhos da Razão, o quanto seu coração pulsava forte, escutando as palavras tão diretas do Orgulho e desnorteada respondera que em quatro dias ela pagaria tudo que devia ao Orgulho.
Sorrira com os cantos dos lábios, voltando ao seu lugar obscuro, ainda não era suficiente. Ainda desejava mais por tudo que passara. Logo a razão dava ao Orgulho o que ele mais desejava.
— Foi sua escolha, não minha! Nesta Vida as pessoas são importantes, mas jamais insubstituíveis. Eu lhe dei tudo, mas foi demais para você! Mas a escolha continua sendo sua!
Orgulho sorria. Ria na verdade. A guinada nas estratégias da Razão flutuava tal qual o humor que ela possuía.
— Agradeço, mas manterei minha decisão.
A Satisfação começava a preencher o vazio dos pensamentos do Orgulho e a Ironia, crescia também e era apenas o primeiro dia.
Nada melhor do que o Silêncio em certas horas ou o Cinismo que eram as qualidades do Orgulho e qual não foi sua vitória ao ver a Razão diminuta, ainda tentando ser imperiosa murmurando tímida para o Orgulho no entardecer do segundo dia.
— Não voltará mesmo?
E em um sibilar sereno e acalentador, o Orgulho sorriu em sua resposta singela e simples:
— Não.


“Dê valor a quem te valoriza, pois nada pior do que um Orgulho ferido” — Pride