sábado, março 27, 2010

Orgulho

— Você não deve demonstrar intimidade! – Gritou a Razão.
“Você está errada, sem intimidade, não sei como agir” – Retrucou em pensamento o Orgulho, pois ainda não era momento de mostrar sua cartada final.
— Desconfio de suas palavras e acho que está mentindo! Tenho certeza de que não é verdade aquilo que aconteceu. – Vociferou mais uma vez a Razão.
— Você não tem idéia – sibilou baixo o Orgulho, ainda aguardando o momento certo para fazer seu movimento.
— Parabéns! Sua incompetência me espanta, achei que você fosse mais sagaz! – Ironizava a Razão.
“Tente ser competente, quando alguém tirar sua autoridade na frente de todos, mas pouco importa, pois quem semeia o Caos mais tarde colherá a Anarquia.” – Tremia de raiva o Orgulho em seus pensamentos, pois era chegada a hora e mais doce ficaria a resposta, deixando para o dia seguinte.
— O que é isso? – Mostrou temor, mas também raiva. A Razão tão imperiosa em certo ponto já desconfiava.
— Não ficarei mais com isso – Falou em tom sério o Orgulho, ao entregar a confiança alheia que ostentou um dia.
— Não volte mais aqui! Não preciso de você! – gritou a razão com ódio, sem pensar direito naquelas palavras que proferia.
O Orgulho verteu algumas lágrimas de dor, de incredulidade, mas também de sagacidade e o doce gosto de vingança que ainda viria. Havia raiva, seu pranto não remetia a angústia que alguns conheciam. Não era chateação pela falta de reconhecimento, mas chateações mais aprofundadas que não devem vir ao caso.
— Eu não tinha idéia que você não queria isso. Volte... Seu lugar ainda lhe pertence... – Veio a voz arrependida da Razão, logo no primeiro dia.
Orgulho sorriu, ainda fechando as estocadas que tomara em menos de um mês, sem dar à Razão a resposta que ela tanto desejava.
— É; não venha mesmo. Eu dou conta de tudo. Posso me virar sem você. — Respondeu amarguradamente a Razão ao ver que o Orgulho não mais voltaria.
O Orgulho, mostrando o ar superior, as chamas esverdeadas em seus olhos e a seriedade em sua voz, resolvera sibilar mais uma vez:
— Quando acertaremos tudo?
Era visível aos olhos da Razão, o quanto seu coração pulsava forte, escutando as palavras tão diretas do Orgulho e desnorteada respondera que em quatro dias ela pagaria tudo que devia ao Orgulho.
Sorrira com os cantos dos lábios, voltando ao seu lugar obscuro, ainda não era suficiente. Ainda desejava mais por tudo que passara. Logo a razão dava ao Orgulho o que ele mais desejava.
— Foi sua escolha, não minha! Nesta Vida as pessoas são importantes, mas jamais insubstituíveis. Eu lhe dei tudo, mas foi demais para você! Mas a escolha continua sendo sua!
Orgulho sorria. Ria na verdade. A guinada nas estratégias da Razão flutuava tal qual o humor que ela possuía.
— Agradeço, mas manterei minha decisão.
A Satisfação começava a preencher o vazio dos pensamentos do Orgulho e a Ironia, crescia também e era apenas o primeiro dia.
Nada melhor do que o Silêncio em certas horas ou o Cinismo que eram as qualidades do Orgulho e qual não foi sua vitória ao ver a Razão diminuta, ainda tentando ser imperiosa murmurando tímida para o Orgulho no entardecer do segundo dia.
— Não voltará mesmo?
E em um sibilar sereno e acalentador, o Orgulho sorriu em sua resposta singela e simples:
— Não.


“Dê valor a quem te valoriza, pois nada pior do que um Orgulho ferido” — Pride

domingo, março 08, 2009

Culpa

Havia tempos que eu caminhava perdida em meu olhar. Suspirava; sentia-me perdida, buscando uma alegria que não estava lá.
- Sabes que só encontrará alegria ao meu lado. – Murmurava orgulhoso, fechando as cortinas do mundo.
Eu sabia que ele estava certo, sabia que ele não mentia para mim e podia ver seu olhar inquiridor, cada vez que eu tentava me afastar.
- Vamos, continue. Sabes que ele está bem com outra pessoa, que não és a preterida e que não mais irás reinar ao lado dele. – Ria sarcástico, apoiando as mãos em meus ombros, enquanto esmagava meu coração com suas palavras.
Mostrava-me a felicidade dele ao lado da outra, outra esta que eu mesma indicara.
- Tolinha, achavas mesmo que conseguirias mantê-lo preso a ti, estando tão longe dele? – Ele estava certo. Quem era eu para continuar batalhando, achando que o teria de volta, quando a realidade se mostrava nua e crua frente aos meus olhos.
- Ela é melhor que você, é alguém à altura dele e tu não passaste de um brinquedo. Fraco, defeituoso e descartável. – Cruel em suas palavras, ele me reduzia a sombra e névoa.
- Não terás prazer com nenhum outro, pois em tua tolice, deste o coração à pessoa errada. – Devo ter dado; o que fui realmente para ele? Realmente isso era um fato. Talvez se eu tivesse me esforçado um pouquinho mais...
- Teria dado de cara com a parede. É tua culpa ele ter sido fraco. Tua culpa ele ter buscado alguém mais perto. Tua e somente tua culpa ele ter te trocado.
Não! Isso não podia ser verdade.
- Mas sabes que é verdade, sempre foi culpa tua não ter ficado tanto tempo com outros homens, sempre tê-los perdidos para outras mulheres mais interessantes que ti.
- Cale-se – Murmurei de modo débil, sentindo meu coração estremecer.
Busquei provar que ele estava errado, mas a cada tentativa, ele se tornava mais forte e meu coração era dilacerado.
- Viu? Por que ainda luta? Me aceite e assim não sentirás mais esta tortura.
Minha cabeça abaixava e eu aceitava aquela culpa como minha verdade. Deixava-me ser possuída por culpa e outros sentimentos mais, até quem um gesto delicado tocara minhas mãos.
- Quem é ele? – Algo alertava, arqueava as costas de quem preparava os grilhões.
Eu nada respondi, apenas escutava as palavras daquele que estava ali, sorrindo, de mãos dadas.
- Ele também se afastará e a culpa será tua.
E pela primeira vez eu sorri sem carregar aquele peso ao meu peito, ou sentir a garganta apertada.
- Não tenho porque me sentir culpada, porque o que há de ser será, assim como todas as trilhas que percorri, pois eu controlo meu Destino.
- Eu voltarei! Quando menos esperardes. – Ele gritou, sendo tragado pelo Abismo.
Se me sinto culpada pelas lágrimas que derramei e por todos os sentimentos ruins que me dominaram? Isso eu deixarei para vocês.

segunda-feira, junho 09, 2008

Angústia

O coração bate acelerado nesses momentos em que a mente não para. Malditos sejam as frases batendo como um pêndulo de sino.
- Você não tem dinheiro!
Dong! É o primeiro badalar daquela voz sibilada que só aperta o peito, mantendo meus olhos vazios e distantes e tantas outras frases ligadas a esta primeira batida, ressoam em minha mente, obrigando-me a rebuscar o ar várias vezes. Suspiros exasperados. Seria isso o que pensaria quem dizia aqueles tipos de coisas.
- Você é um fraco!
Dong! Vem o segundo badalar que fecha meus dedos com tamanha força e nem mesmo noto que o roer de unhas passou a ser um crispar de lábios e os dentes a roçá-los. Realmente não dava mais para controlar o compasso do coração e a mente agora ecoava aquelas duas frases.
- Seus amigos de nada valem!
Dong! E o terceiro badalar já está passando dos limites. A cor do mundo foge aos meus olhos, ou talvez ele esteja se pintando com outras cores. O corpo já mostra alguns tiques necessários para que eu não me descontrole. Mas esta voz sabe bem o que dizer e onde atingir. Ah! Maldita voz sibilante, porque não vai para longe de mim.
- Você ficará só!
Dong! O quarto badalar foi demais. Ah! Não! Agora aquela voz foi longe demais. Já escutei tantas outras coisas daquele velho tique-taque sádico, daquelas frases que se repetia como discos arranhados que meu corpo se ergue com os olhares já furiosos.
- Vamos lá! Diga que mais uma vez estou certa!
Aquela cobra sibilava. Maldita víbora que tentava me fazer perder o controle, arrancar lágrimas de meus olhos, depois de cravar suas presas em meu coração e dilacerar a minha alma.
- Repita, é tão fácil. Você sabe que é verdade!
Não. Não é verdade, não posso deixar isso se tornar verdade. Não posso deixar isso me dominar mais uma vez e é então que eu sinto...
Meu coração mesmo que ainda apertado, sente aquele abraço mais apertado ainda. Um respirar tão fundo quanto o meu, que não me dizia palavras e ao mesmo tempo me dizia tudo que eu necessito escutar.
- É uma ilusão. Não a escute, ela apenas o arrastará mais para baixo. – A voz sibilada já sentia uma pontada de desespero e eu apenas sorrio.
- Não sei por que ainda te deixo me abalar.
- Por que sabe que digo a verdade. – retruca aquele sentimento horrível.
- Mas a sua verdade não é a minha. Nunca será.
Respiro mais aliviado, ao ver o sorriso de quem me abraçava e se mantinha ao meu lado e com um abraço forte, deixo-a curar as minhas feridas e levar para o abismo aquele sentimento que não queria me deixar em paz.

domingo, junho 08, 2008

Ciúmes

Estava à frente da tela. Pensativa. Sentindo o indicador a pressionar o lábio.
Por vezes erguia os olhos, observando a tela branca.
- O que tanto pensa?
O calafrio percorreu-me por toda a pele ao escutar aquela voz baixa e sussurrante. Havia tempos que ele não aparecia e suas mãos chegavam a pesar-me aos ombros.
- Seus olhos estão se estreitando novamente.
Continuou sua conversa, vendo que me mantinha em silêncio e seu hálito cálido deslizava-me à orelha.
- Tem negado seus instintos. Seus medos. O que pretende?
O frio daquela conversa estremeceu-me o corpo. Como eu odiava sua presença. Mais uma vez abria meus olhos, sabendo que o brilho contido neles havia mudado.
- Esta é a minha garota! – Dizia-me isso quando começava a observar a minha alma ficando sombria.
- Vamos lá! Não é tão difícil. Você sabe como fazer, sempre soube.
Ele estava certo. Eu realmente sabia o que fazer, como e quando. Seria fácil ignorar o frio que tomava posse de meu corpo enquanto meus olhos se mantinham presos à tela.
- Respire fundo, seu coração precisa desacelerar. – falava quase me ordenando e meus lábios contraíram-se, buscando meus dentes que os morderiam.
- Por que está tão difícil desta vez? – Estava incrédulo ao ver que meu coração continuava acelerado e que meus dedos não se moviam da forma que ele gostaria que se movessem.
- Por que continua a lutar? Não vê que está se torturando? – Repreendia-me ao ver que eu respirava fundo e passava a mão ao rosto.
- Será que é tão difícil de compreender que este tipo de pensamento é tolice? – Mais repreensões e meus olhos se fechavam. Respirei fundo e mais uma vez fiquei pensativa. Um sorriso com os cantos dos lábios e meus olhos se prendia ao espaço branco que se mantinha ali.
Meus dedos foram percorrendo as teclas, sentindo minha mente esvaziando. As horas corriam fugidias, enquanto o calor de um abraço parecia me confortar. Confortava-me à mente e ao coração, enquanto rosnados e passos pesados tornavam-se mais altos. Os sons de livros jogados ao chão, acompanhavam a sensação das costas sendo rasgadas.
- Não é isso que eu quero! Não é isso que deve fazer! – Vociferava ao lado do meu rosto e mesmo assim meu olhar se mantinha fixo, quase vazio, diante das letras que surgiam.
- Pare! Eu ordeno! – E nesse momento meus olhos fitaram o vazio.
Não haveria cigarros naquela noite, muito menos a dor no coração com possíveis pensamentos induzidos. Não surgiriam desconfianças e muito menos telefonemas. Não teriam conversas extenuantes e muito menos lágrimas e por mais que eu ainda escutasse aquela voz maldita, um sorriso surgia aos meus lábios.
- Não sei por que te dou ouvidos. Você sempre me fez mal. – Murmurei enquanto encerrava o que escrevia e ainda pude escutar o rogar de uma maldição.
- Por que faço parte de você, por todas as vezes que a feriram. Sou sua auto preservação, sou aquele que te dá abrigo.
Ri. De forma baixa, mas ri e respondi de forma calma.
- Não. Você é quem mais me fere, quando vem com suas palavras sussurradas. Você é quem me leva de volta para o abismo. Você é quem me faz derramar as lágrimas e você é justamente de quem eu não preciso.
Um respirar exasperado e pude vê-lo partir nessa noite de batalhas vencidas e meu sorriso se alarga antes mesmo que eu termine meu texto.
Um abraço confortável, um sorriso belo e aqueles olhos que tanto desejo, surgem belos imponentes mandando de volta ao abismo o pior sentimento que surge em minha mente.

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

domingo, janeiro 07, 2007

Suave Veneno

§Vengeance§: Apenas me leve adiante, pra longe deste ponto, pra perto do cimento dos prédios altos.De lá, eu a guiarei com os meus olhos, criança da Tristeza....*Com cuidado a mão fria tocou o ombro dela, apoiando os dedos que se entranhavam sem força na carne viva e soluçante, tremula pelo frio da falta da água que há pouco havia cessado.Dava pequenos passos, certos, firmes e sem medo, sem titubear,apertando a mão vazia contra o bolso da calça, enquanto o rosto erguido, ainda escorria as gotas frias da chuva de outrora, dando vida ao rosto belo, porém tão frio.*

§Sadness§: *ela sentia a mão de Vengeance em seu ombro. Uma mão fria devido à chuva que ambos tomaram. Ainda continha o choro que parecia tão difícil de segurar... Alguns soluçares com o rebuscar do ar apenas a acompanhavam em seus passos. Sua pele sentia frio, aos poucos abraçava o próprio corpo, dando os primeiros passos inseguros. Inseguros por ela, inseguros por ele que não possuía o dom da visão. Mas Sadness não achava que ele seria fraco diante dela, não depois de tamanha força que ele demonstrou ter para alguém que não possuía visão e poderia ser muito mais triste do que ela e não o era. Levava-o para longe daquele ponto em que eles se encontravam. Levava-o mais adiante para o ponto que ele pediu e que ele disse que poderia guiá-la. Talvez ela fosse a verdadeira cega, por não conseguir ver os caminhos que devia ter seguido antes de se encontrar naquele estado que a tornara tão frágil. Mordia os lábios tentando desvencilhar os pensamentos por vezes olhando para trás levemente vendo que ele mantinha o rosto erguido com aspecto tão frio.. Quando ela os mantinha seguros até que seus lábios trêmulos pudessem dizer* Seria este o local que você pediu para que eu o trouxesse?

§Vengeance§: *Devagar ele desvencilhou os dedos do corpo dela, frágil naquela concha chamada carne e caminhou para frente sem medo, como se o caminho fosse conhecido para os pés, pois qualquer um que não o soubesse, jamais diria que seus olhos não continham vida.*Diga-me.... O que vê? Descreva com riqueza de detalhes cada pequena dobra que houver aqui e quando terminares, direi para onde irás...*Voltava o rosto belo em direção á ela, o sorriso nos lábios, sem que ninguém soubesse dizer se era de sarcasmo ou marotisse.Os olhos claros, piscavam vivos, enquanto a língua traçava os lábios, em seu contorno perfeito.*...Ainda noto. Temes a mim, ou a si própria? Decida a quem inspirar medo, Criança para que possa ajudá-la mais rápido.

§Sadness§: *ela olhava-o passando diante dela, já não sentia mais o contato da mão dele sobre o ombro. Via-o naquela certeza de um predador que conhece bem o território ou algum que conhecia melhor o local que morava do que muitos que por ali passaram e jamais reparou em detalhes, ele pedia descrição do lugar com os detalhes. Detalhes de cada pequena dobra. Temia não poder descrever com tanto detalhe, temia confundir Vengeance com a forma que ela via o mundo pintado nas cores de olhos que viam apenas tristeza no mundo. Via-o sorrindo e ela desvencilhava os olhos enquanto ele contornava os lábios com a ponta da língua como se a umedecê-los para trazer as próximas palavras que pareciam querer ajudá-la, mas ele não iria a deixar mais triste quanto tantos outros a deixaram? Ela olhava ao redor.. Precisava responder a duas coisas naquele momento, por onde começar?* temo a mim... *responde de forma baixa olhando ao redor* Vejo com meus olhos um prédio que toca o céu. Céu que chorou suas mágoas em uma noite sombria. *ela suspira tocando a mão no prédio. Cinza ele poderia ser se em outro local estivéssemos, mas a cor bege, mescla-se com tons marrons mais fortes como se a invejar o verde que provém do parque. *ela desliza as pontas dos dedos sobre as paredes do prédio, sem olhar para Vengeance, deixando seu olhar se perder nas ranhuras da parede* Nem só de ladrilhos são feitos os prédios, pois este possui uma tintura texturizada que poderia me lembrar as pequenas ranhuras de troncos de árvores e não mais que trinta passos devemos estar da esquina que levará a um beco. Dez passos, acho eu... Deve ser a distância entre um prédio e o outro.Onde o próximo prédio mais invejoso possui mármores negros e detalhes dourados... *suspira e afasta a mão do prédio mordendo os lábios e balançando a cabeça em negação* Me perdoe... Nem mesmo se eu quisesse poderia pintar os mais ricos detalhes que este local parece ter...

§Vengeance§: Você não os vê....*Gargalhou o jovem, cujos dentes brancos agora pareciam agressivos na risada solta, como presas de serpente prontas ao bote sobre a garota.* Você os olha com os olhos que lhe deram, os olhos que aprendeu a ter...Mas tente olhar pelo outro ângulo, de outra forma....*Nada mais que três passos ele deu, antes de alcançar o queixo de Sadness com os dedos e erguê-lo, na direção do topo dos prédios, onde o céu cinza estava ali, ainda ameaçador, tomando a noite para si.* Se fechar os olhos por um momento, poderá usar arma maior.Outros olhos, olhos que você ainda não abriu....Com estes olhos não chorará pelo passado triste, muito menos olhará rostos que não lhe olham em retorno...Verá o infinito. Feche-os, Criança...feche-os...*Com a ponta dos dedos, a mão direita pousou sobre os olhos da jovem, fechando-os com cálido movimento, como uma criança faria, anunciando uma surpresa aos pais.* Imagine-se lá...em cima... No topo do prédio cujos andares são como troncos de árvore nua.Toque-o...*Puxava-a levemente, um passo ou dois, para que tocasse a fachada do prédio de texturas e sentisse o calor que a pedra ainda guardava do sol saudoso.*....Veja agora como se torna baixo, como uma pequena árvore fácil de se subir, de galhos baixos...Suba nela.Vê as folhas.....*A voz de Vengeance transformara-se num sibilo morno, colocado à ponta da orelha da garota, baixinho, rouco, apenas a lhe proporcionar aquele quadro pintado na mente.*...Toque as folhas se quiser...São feitas de cimento e aço.Mas pintadas de verde, não parecem tão pesadas, não?E se olhar daqui onde está,você verá....*Levemente a presença de Vengeance se desfazia, como se fosse uma divindade a evanescer.Dava alguns passos para trás e a deixava sozinha*...Abra os olhos Criança e veja o mundo como deve ser daqui para frente....*Se Sadness abrisse seus olhos, se depararia com a cidade vista de cima.Como havia chegado lá?Estava no alto do prédio em tons de bege, sentindo o vento no rosto molhado, com os pés apoiados no parapeito de metal , equilibrando-se no vazio.*...Assim é que deve ver.

§Sadness§: *ele a censurava, era claro que ele a censuraria como muitos outros a censuravam por conta de suas fraquezas, dizia para ela olhar por outro ângulo, olhar de outra forma. Por um momento os olhos dela lacrimejam, mas logo sentia a mão de Vengeance alcançar-lhe o queixo e erguer sua cabeça em direção ao topo dos prédios. Seus olhos viam aquele céu tão obscuro e que ainda possuía os tons que a levaram para aquele parque, sentia aquele lacrimejar escapar de seus olhos e contornar a sua face. Ele falava sobre outros olhos, olhos que ela não iria chorar pelo passado ou pelos rostos que ela ansiava ver novamente e que eles tão pouco pareciam ansiar pelo mesmo. Seus olhos se fecharam apenas quando a mão de Vengeance repousou sobre os olhos que ainda se perdia nos reais motivos de sua tristeza. Era um toque suave e cálido. Que vinha acompanhado das palavras sibilantes como uma cobra a hipnotizar a sua presa, era conduzida por ele até sentir a mão que tocava o prédio, que para ela era tão frio em suas cores que pareciam invejar o parque e que com os olhos fechados, e mergulhada naquele mundo vazio e negro que Vengeance a submetia, parecia ser tão morno à ponta de seus dedos, seu coração disparava, enquanto escutava aquela voz baixa e rouca. ele comparava o prédio a uma árvore de fácil escalada, parecia conseguir fazer-la sentir o que ele queria que ela sentisse.. A presença dele desaparecia, como alguém que brincasse de cabra-cega e parasse de guiar com a voz quem estava com os olhos vendados.. Ele falava para ela abrir os olhos, dizendo como ela deveria ver o mundo e ela abre os olhos e se assombra com o que via. * Não.. Não.. *ela levava as mãos ao rosto fechando os olhos, mesmo com todas aquelas sensações, mesmo parecendo tão real, não era possível aquilo. Seu coração disparava e ela sacudia a cabeça com os olhos fechados.. Estava assombrada, não aceitava ver o que viu. Não era possível.. Não era possível eles estarem lá em cima* por que me ilude desta forma? *A garganta parecia se apertar com o choro que se mantinha contido desde que ela atravessara a pista para levar Vengeance até ali*

§Vengeance§: *A risada curta vinha das costas, de trás, onde os olhos dela não poderiam ir, sem que o corpo desse um giro e arriscasse a queda.* Não se mova, Criança.Poderá cair e mergulhar novamente em seu choro tolo, nas tristezas que deixa consumir ...Deixe isto para trás.Olhe, enfrente as alturas que lhe concederei...*Um breve toque ao lado do corpo, indicava para Sadness que ele estava ali, próximo, presente, não Onipotente e único, como um deus a brincar com suas ilusões. Não. Não havia brinquedos, apenas peças em um tabuleiro.*...Não jogo ilusões. O que vê é real. Teu corpo inerte jamais perceberia a sutileza de meu andar, a rapidez da salvação que tenho para ti... A altura é o que lhe aguarda, o topo da vida, as felicidades, a colheita dos frutos que a sua bondade devia ter colhido outrora... Olhe, Criança, o que lhe ofereço... *Como o vento, na altura, a mão tomou a dela com cuidado.Não havia mais a brisa fria do último andar aberto, nem a falta de equilíbrio latente. Se Sadness abrisse os olhos, não haveriam saído da calçada, onde a parede bege do prédio ainda estava morna e presa entre os dedos da mão esquerda dele.*

§Sadness§:*ela estava assustada com tudo aquilo, sua mente não se permitia acreditar naquela impossibilidade. Ela estava delirando, vivendo um mundo de ilusões. Manipulada por Vengeance de uma forma cruel e sádica. Era tão fácil dar um passo e terminar com toda aquela tristeza, com toda aquela angústia. Mas ele tomava sua mão. Tomava-a para ele naquele momento em que a fraqueza parecia estar tão latente com aquelas promessas.. falsas promessas que ele fazia. Sadness fechava os olhos, remoendo as palavras de Vengeance, sentindo a brisa dissipar. Sentindo novamente o solo que parecia tão firme sob seus pés e quando abria os olhos novamente, poderia ver o mesmo prédio em que elees estavam logo à frente. aquela parede bege que ainda continha o calor que o sol ali depositou. Sadness soltava a sua mão da mão de Vengeance e se virava para ele* A felicidade caminha ao lado da tristeza e por mais que eu tente esquecer tudo que me trouxe a trsiteza, estas questões sempre voltam a minha mente. Você me promete a altura. O céu que você pode me fazer tocar, mas está mergulhado em um mundo tão sombrio quanto o meu e está tão perdido quanto estou. 8ela abaixa então o rosto, tentando engulir a tristeza que assolava sua alma e que a cegava para o mundo que a rodeava*

§Vengeance§:*Os olhos baixos dele sequer demonstravam alguma mudança, de tons ou cores, como fazia ás vezes.Estava ali, próximo, impertubávl como sua própria essência e seu senso de justiça....cego.* Então me diga, onde estará a Felicidade que deveria caminar ao teu lado?Pois a tristeza está em suas veias, em seus olhos e em sua voz lacrimosa e trêmula.Está enraizada na tolice que diz ao lembrar-se sempre da dor...Dor...Por que assola a alma tão frágil desta criatura? *Sorria, malicioso,denso, erguendo o rosto belo para o céu acima deles, que á pouco parecia tão próximo.Fechava os olhos aos poucos, com umc urto movimento de voltar a fitar a jovem próxima, como se tivesse finas lãminas em cada pupila.* Tola... Não a ajudarei mais.Viva sua trsiteza enlameada na qual está atolada até o pescoço.Voce não merece a felicidade, nem a confiança que lhe dei.... *Devagar ele girava o corpo, ajeitando as roupas úmidas e dando curto passos, tateando a parede morna para se encontrar.*

§Sadness§:*ela escutava aquelas palavras que ele dizia com tanto imponência. Dizia que ela era tola por estar mergulhada naquela tristeza que assolava sua alma e seu coração. Dizia que ela não era digna da confiança que ele deu a ela ou da felicidade que ele tinha a ofertá-la e quando ele se retirava, Sadness olhou para ele em seus olhos lacrimejantes se retirando dali. Cego em seu corpo físico e cego em seu senso de justiça* A Felicidade caminhará ao meu lado. Mas apenas quando eu vencer meus próprios demônios. Não posso aceitar os demônios de outras pessoas, pois a felicidade que surgirá, não será a minha felicidade, mas a sua felicidade.. *falava em tom fraco.. engulindo um pouco daquele choro, pensando que ela tinha procurado por alguma ajuda, mas no fundo ela sabia que não podia viver em um mundo de ilusões, pois ela já tinha vivido bastante naquele mundo. Sadness então deixa o corpo deslizar na parede... deixando as lágrimas rolarem.. Buscando no céu que esteve tão próximo a ela, as respostas que estavam guardadas em sua alma sombria*