domingo, outubro 01, 2006

Enquanto a Noite Corre...

§ Vengeance § fala para §Sadness§: Você quer viver de um passado remoto.De coisas que estão empoeiradas, quebradas, distantes...Não.Eu não estou lhe confundindo.Estou lhe oferecendo algo novo, que cabe a você experimentar. *Baixava o rosto molhado, onde os cabelos escuros grudavam, fio por fio, com um capricho voluptuoso, marcando as feições de tal jovem. Vagaroso, molhou os lábios, contornando-os com delicadeza , tal qual uma serpente*...Diga-me, se quer que os sorrisos retornem, por que não é sorrisos para os outros? Vejo lágrimas em você, sei que escorrem por seu rosto junto das gotas desta chuva, assim como estão nos seus desejos e palavras... Mas, para que os consiga novamente, terá de demonstrar sua força, criança... É isso que ofereço. Nada mais... Nada de confusão... Ou dor...

§-HaPpInEsS-§: *Estava num cyber café de nome HotMoons, um dos muitos que compunham a região, buscava no banco como estaria suas economia de químico. Estava sentado numa mesa perto da vitrine, de onde tinha uma boa visão lá de fora, a chuva ia amenizando, viria o quase acidente de Fear, evitado por Miss You, ficaria aliviado em ver ambos são e salvos. Levantaria com sua costumeira calma, já havia pago adiantado a sua utilização e saindo pra ver o ocorrido. Tinha um certo cuidado para que as calhas de água suja não caíssem na sua vestes brancas.* Nossa deram sorte... *Mas ao chegar lá eles já haviam partido, perguntava a alguns transeuntes onde ambos haviam rumado, como já bem sabia, cada um havia ido para um lado. Então como era recém chegado na cidade, junto com sua irmã gêmea, estava conhecendo a cidade ainda e viu no acontecimento uma boa hora de conhecer o parque tão bem falado. Decide caminhar até a entrada e começa a perambular nele.*

§Sadness§ fala para § Vengeance §: *As palavras de Vengeance eram fortes demais... Ele a deixava confusa... A chuva tinha afinado em meio à conversa de ambos... Poderia até se dizer que tinha cessado tendo apenas parcas gotas que não queriam se afastar... Logo viria o frio... Por que a chuva tinha que ter ido embora? Ela se abraçava... Olhava aquele homem cego que dizia verdades para ela... Verdades que ela estava arredia em aceitar... Tudo parecia tão dolorido... Mesmo cego ele dizia poder ver as lágrimas... Ela não tinha forças* Eu... Não possuo tal força... Não esta força que você possui... *murmurava, sem conseguir encará-lo... Pois encará-lo era como encarar seus medos.. Suas fraquezas* Como posso sorrir? Se não possuo mais ninguém perto de mim... Se as pessoas parecem mais felizes longe de mim? Eu movia mundos por elas... Poderia lançar-me em batalhas apenas para que elas não saíssem feridas... Mas.. *mordia os lábios... A tristeza trazia amargura... Tinha que ir embora... Mas ele trazia tanto conforto, mesmo sabendo que ele traria uma tristeza maior...*

§ Vengeance § fala para §Sadness§: *Calmamente, dava um passo para trás, movendo o corpo até sentir que dava as costas para ela. Tristeza. Sadness. Podia sentir cada pequena gota que escorria de seu coração, assim como aquela imensidão de desejos. Perto dela, sentia-se forte e via nitidamente cada contorno de sua face, como linhas finas e prateadas que escorriam de seu olhar. Sorriu e baixou o rosto, abrindo os olhos como se a fitar os próprios pés.* Serviste apenas aos outros e não a você mesma. Por isso teve tanta dor, tantas lágrimas, tantas pessoas que se afastaram sem sorrir mais... Mas eu posso mudar isso. Posso te ajudar a mostrar a elas que você é diferente. Sua docilidade poderá transformar-te de doce pardal em forte falcão... *De brusco tornava a fitá-la, com olhos vibrantes e ameaçadores, vívidos e alimentados com a esperança de poder dar vazão as suas palavras cheias de fel* ...Deixe-me ajudá-la...

§Sadness§ fala para § Vengeance §: *Promessas... Promessas... Vengeance em suas palavras fazia promessas fortes... Tentava a conduzir em uma valsa que parecia ser tão agradável... As lágrimas iam diminuindo. Diminutas como a umidade e o cheiro molhado das pistas e das calçadas depois da tormenta que a convidara para chorar suas lágrimas... Ela erguia a face... Pensando nas palavras que pareciam ecoar em sua mente e em seu coração... Via quando ele a fitava. Com aqueles olhos que pareciam ganhar vida... Uma fúria contida e que buscava uma resposta que viesse dela... Ela mordia os lábios... Fechando fortemente os olhos... A dor ainda era grande... A dor por todos aqueles que mentiram para ela... Por todos que se afastaram... A dor de não ter mais os sorrisos a não ser lágrimas... Lágrimas de tristeza... Tristeza... Apenas isso... Ela respirava de modo fundo... Sacudindo a cabeça de forma negativa... Por que a presença de Vengeance parecia tão forte? Por que sua tristeza tentava buscar de forma desesperada o encontro de algum conforto? Ela então segurava a blusa do Vengeance de modo forte... Cerrava os dedos naquela blusa molhada... Recostava a cabeça no peito dele deixava o choro contido se transformar em um choro liberto... Um choro que tentava escapar tantas vezes entre soluçares e um pedido de ajuda... As lágrimas voltavam fortes... Na raiva que oscilava entre a raiva... Entre o medo... Entre o desespero...*

°PAIN°: *As minhas faixas estão começando a secar, o constante movimento contra a minha pele me lembra que eu ainda estou viva, de que isto não é um sonho e que mais um dia foi sobrevivido. Eu caminho pelas ruas, passando pelas partes mais escuras, a aba aberta da gola de meu sobretudo iria proteger os olhares alheios do semblante de algo bem desagradável. Observo o caminho em minha frente e enxergo mais cinza do que estou acostumada a observar. Acendo um cigarro e sinto a fumaça passar por mim, pessoas precisam de sua dose dor para poder viver, pode chamar isto de um estilo de vida. Às vezes eu tenho medo de estar me tornando uma loucura em vida. Seja racional, você tem tempo para pensar, afinal, quando dor é um modus operandi, uma hora se passa como uma semana... Caminho pelo parque, e o ambiente me faz sentir bem. Soltando fumaças compartilho de meu mundo irracional com a vegetação, após arrancar uma flor e despedaça-la. Deus abençoe os mercadores de Câncer! Volto a caminhar observando o além da cidade, sento em um banco do parque sem saber aonde ir.*

§-HaPpInEsS-§ fala para °PAIN°: *No caminho olharia o céu ainda encoberto por nuvem, a lua começando a aparecer por entre elas, dando o ar de sua graça. Happ sorria como sempre fazia, deixava um meio sorriso de canto de lábios, outro costume visível naquele homem estrangeiro. Os olhos cinza eram de um opaco sereno, que muitos não o tinham, a pele alva meio que se misturava com a sobriedade da vestes. Trazia em mãos sua fiel bengala, amiga inseparável, pois era coxo, talvez fosse por isso não ter chego ao local do “acidente” com antecedência e ter visto os envolvidos. Estava bem caminhado já bem próximo do coreto, pensava: “Um local interessante para uma bela apresentação de sax...” Sorria mais uma vez, levava as mãos até um bolso qualquer,retirava um óculos negro de lentes miúdas e redondas “A Lá” musico de Blues. Continuava a sua visita no parque, eis que então ao longe vê alguém sentado num banco do parque, vira ao longe os tragares de cigarro.*

§ Vengeance § fala para §Sadness§: *Não havia palavras. Apenas ações. As mãos que se prendiam nas vestes, a pele que se recostava à dele, numa busca desesperada pelo toque alheio. Um sorriso. No rosto dele apenas se via um sorriso. Satisfeito, prazeroso, regojizava a vitória sobre a fraca capacidade da criança da Tristeza. Com cuidado a enlaçou, passando os dedos finos por seus cabelos molhados, acalentando seu desespero com o calor e segurança que apenas Vengeance poderia dar. Pouco a pouco, seus olhos voltavam a sua opacidade costumeira, enquanto o rosto apoiava-se a cabeça da jovem* ...Isso... Deixe sua frustração se esvair, Criança. Deixe-me ajudá-la... Sim, desse jeito. Vê, não quero machucá-la afinal... Apenas ofereço a força que lhe falta para enfrentar seus medos...

§Sadness§ fala para § Vengeance §: *sentia o enlaçar que vinha de forma tão cautelosa... Que acalentava sua alma enquanto ela deixava toda aquela dor que estava cravada em sua alma sair naquele choro... Era fraca... Sempre foi... Jamais compreenderiam que ela chorava no escuro sozinha a cada dia que o silêncio aumentava e que ela sentia a distância de amigos que ela já teve... Se é que eram amigos e não ilusões que carregava com ela... Sentia o abraço e o apoiar da cabeça de Vengeance sob a sua. Precisava tanto disso... Tanto de um abraço... De palavras que traziam segurança... Mas precisava destas palavras vindas de outros lábios... Precisava do conforto vindo de outros olhos* Por que eles me abandonaram? *o choro ainda era forte... e ela não conseguia erguer a face... Não conseguia sair daquele abraço...*

°PAIN° fala para §-HaPpInEsS-§: *Não existe mais graça neste mundo? As pessoas fogem de mim ao invés de entender. Eu me sinto fora de época, anacrônica como sempre. EmoKids? Bah! Nunca fui ligada à religião mas o que levaria a maioria das pessoas ao ateísmo ilumina as profundezas de minha alma. Vejo alguém se aproximar, minha visão vermelha enaltece aquela figura. Um rapaz manco com um sorriso beirando à idiotice ou a loucura. Mas que porcaria, eu devia ter trazido o meu gorro. Ele vai olhar o meu aspecto e correr como um frango desesperado. Bom, apenas fique parada. Lembre-se, você não é uma pessoa, é um ideal! Sobreviveu a muita coisa, ele não irá ter um ataque cardíaco e perecer em sua vergonha e desonra. Mais um trago, meus ossos estalam, quase senti que fossem perfurar minha pele. Quase.*

§ Vengeance § fala para §Sadness§: Por que você era fraca. Não gostam de pessoas fracas, frágeis como folhas de papel. Precisam de pessoas fortes, que mostrem para eles onde pertencem, que não os deixem passar dos limites, que os façam respeitar... Respeitar você. *Afagava a pele ainda fria da criança triste, pela chuva que agora passara, correndo os dedos agora mornos pelas costas próximas, acarinhando e preenchendo a necessidade da segurança que brotava nela. Seu sorriso, ardiloso e vípero, não se desfazia. Apenas era inflado e alimentado com as palavras dela.* Mas pense, Criança. Pense em como as coisas podem ser diferentes se você quiser... Vou estar com você , como estou agora e não haverá mais olhares tortos, vazio ou solidão. Apenas esse... Calor... E sorrisos.

§-HaPpInEsS-§ fala para °PAIN°: *Vinha calmamente no seu constante mancar, vira a forma como a pessoa estava vestida e as faixas médicas na face e partes que não estavam ocultas pelo sobre tudo. Aproximava-se agora sem a bengala, pois colocara o gancho da mesma sobre o braço esquerdo, era um homem de certo porte, austero até. Não tinha pesar ou repulso algum, pelo contrário já havia trabalhado como voluntário em um hospital, em sua terra natal enquanto concluía seus estudos na faculdade de Química. Se ela olhasse fixamente nos óculos poderia ver que aqueles olhos a fitavam. * Posso me sentar aqui? *Mal esperou alguma resposta vinda daquela mulher enfaixada, sentou-se na beira do banco, retirando agora a bengala do braço e a colocando sobre o banco fazendo como se tivesse uma barreira entre eles. * O que acontecera com você? *Tentava não aspirar muito a fumaça do cigarro e ajeitava a perna manca para maior comodidade. * Vejo que não teve tanta sorte quanto um casal que quase fora atropelado, minutos antes...

§Sadness§ fala para § Vengeance §: *Ele falava uma coisa que ela jamais olharia da forma como ele olhou a situação... Ela era fraca... E as pessoas não estavam dispostas de cuidar ou de ficar perto de alguém fraco... Que eles jamais respeitariam uma pessoa como ela... Sentia as mãos aquecidas de Vengeance deslizarem por suas costas... Tentava se recompor... Tentava não chorar... Mas estava tão difícil... Os pensamentos... As lembranças... Tudo remoia em seu coração... Ele falava para ela pensar... Dizia que estaria com ela... Que não haveria mais aquilo que ela tanto temia... O vazio... A solidão... Prometia aquele calor que ele estava dando para ela naquele momento... Prometia sorrisos... E então abraçava Vengeance de modo forte... Por aquele único momento em que as palavras dele pareciam tão acolhedoras... E ao mesmo tempo tão assustadoras... Precisava apenas daquele momento... Em sua alma ela poderia estar gritando para ele a tirar dali... Tirar-la de perto do Parque que era o local que sempre a acolhia em suas lágrimas... Gritava em sua alma para que a chuva voltasse e não a abandonasse como muitos a abandonaram... Chorava escondendo por um tempo o rosto... Naquele choro de quem queria se recompor* Me leve daqui... Me leve para bem longe daqui... Por favor....

°PAIN° fala para §-HaPpInEsS-§: *Até que me senti bem com ele vir me abordar, sentando ao banco em um singelo encontro vadio, eu o olhara e batia a cinza de meu cigarro, alternava o cruzar de pernas para que as mesmas não ficassem dormentes. Eu tinha de me manter consciente sobre o status de meu corpo, senão pequenos acidentes poderiam acontecer* Certa vez houve fogo, e lâminas em brasa, que desafiaram uma vida de simplesmente querer viver. *Jogara fora o cigarro, que por sinal já estava no fim* Uma sobrevivente modéstia à parte. *Tinha um bom humor em minha voz rouca e abafada pelas faixas, embora meus gestos sempre foram de uma impessoalidade - Convenhamos, eu tenho espelho, sei que não sou do tipo social.* E posso dizer o mesmo de você, tendo em vista o modo como anda.

§ Vengeance § fala para §Sadness§: *Afastou o rosto, antes apoiado sobre ela, para receber o abraço forte, forte como o pedido dela, que vinha embargado de lágrimas cor de prata. A satisfação corroia o rosto dele, enchia seus lábios de vida, como o veneno que neles corria agora.* Leva-la daqui? E para onde? *Sua voz enchia os ouvidos da criança como uma canção, doce e melódica, daquelas que convidam ao sono pesado e sereno, sem sonhos. Prendia os dedos aos cabelos dela, afagando-os , brincando com os fios que se mexiam com o vento.* Já sei... Vou levá-la para longe destas árvores, destas ruas, deste frio. Mas você tem que me guiar pelas ruas, embora eu saiba o caminho, não posso andar sozinho... Veja, só isso lhe peço. Guie-me para que eu possa ajudá-la a se livrar destas lágrimas, Criança... E tudo ficará bem.

§Sadness§ fala para § Vengeance §: *Ela sentia aquele afagar em seus cabelos... Escutava a pergunta que vinha daquela forma tão serena para os ouvidos dela... Sadness em sua tristeza ouvia de uma forma tão diferente as palavras de Vengeance... Ela não via a maldade que antes a fizera temer... Mas via apenas o conforto que ele ofertava... Ele pedia ajuda para ela... Pedia que ela o guiasse e ela afastava o rosto... Enxugando um pouco as lágrimas* Me desculpe... *Ainda suspirava de forma soluçada... Pegando a mão de Vengeance* Me diga o lugar... Eu... *Ela abaixava a cabeça por um momento* O levo lá... *Tinha usado ele como um apoio... E em sua tristeza não tinha visto metade das coisas que veria se não estivesse a chorar... Esperava dos lábios de Vengeance um endereço... Só queria sair dali... Do local em que grande parte de suas tristeza eram derramadas nas noites tempestuosas ou não..*

§-HaPpInEsS-§ fala para °PAIN°: Sobrevivente de um incêndio? Interessante... *Ouvira ela com tanta atenção, deixava um gargalhada rápida escapar, após falar de sua deficiência. A bengala era em sua maior parte feita de madeira nobre, possuía detalhes em prata assim como o gancho que tinha o busto de uma águia. Virava-se pra ela e falava de forma calma, trazia certo sotaque dinamarquês. * Ah sim, sem sobra de dúvidas, ninguém está isento de acidentes, minha cara... Não pude escapar, acidente de carro, minha irmã estava no volante. Estávamos vindo de uma apresentação de Blues em um barzinho, pra casa... Eis que um caminhão desgovernado de motorista bêbado atravessou a nossa frente e acertou em cheio o meu lado, o do passageiro... *Dava uma larga pausa e continuava. * ...Várias escoriações, minha irmã não sofrera nada. Graças eu ter apenas fraturado o fêmur, de grave, partiu-se em quatro, agora tenho pinos por dentro. 1 ano de fisioterapia estou aqui, hoje em dia o motorista freqüenta a AAA, não trago rancor por parte dele... * Falava de forma sincera, parecendo falar a verdade. Ele olharia para o braço levantando a manga e verificava as horas.* E por que está sozinha aqui?

°PAIN° fala para §-HaPpInEsS-§: *Ele ri? Só pode ser maluco. Ninguém ri de coisas assim* Eu quero entender este campo de batalha. *E eu acendi outro cigarro, não me importava se ele iria reclamar, afinal, ele já estava ali mesmo. Malditos não-fumantes, tratando as pessoas que se suicidam a prestações como leprosos – nazistas - pedófilos, ninguém pode escolher como nascer, mas pode ao menos escolher como morrer* E a vivência do conflito e a dor como parte significante do tudo. *Dera um longo trago, sentia a brisa noturna e observara a rede azulada da fumaça se desfazer em suas tênues linhas. A se desfazer contra o ar tão mais poluído que o próprio cancerígeno. Que ironia não?* Eu reflito no mundo, tudo que há de mais doloroso e faço dessa existência o inferno *Que pessimista não?*. Pois estou passando pelo eterno purgatório e devo aprender a me controlar.*Neste momento eu o olhei, ele não veria os meus olhos, mas eu podia ver os dele.* A insensibilidade me levou a uma Verdade interior.

§-HaPpInEsS-§ fala para °PAIN°: *Notava a forma que ela via a vida, sentia certa fisgada ao peito, algo suportável. Sempre se deparava com pessoas nesse impasse, pessimismo era o que ele mais encontrava. Talvez o mundo estivesse mergulhado numa desesperança profunda e caberia a pessoas como ele tentar salvar o máximo de indivíduos possíveis. Afastava inutilmente a fumaça que saia da “chaminé”. Tentava trazer algo nas palavras que viriam. * Viver é de certo complicado... Mas não é um bicho de sete cabeças assim para ser um purgatório... Problemas sempre existiram, quer queira quer não, basta a você saber contornar-los. *Ela poderia notar agora os traços finos que o rosto dele portava, bonito até, mas a voz era grave e agradável aos ouvidos. Parecia querer viver a todo custo e se preciso ajudar o próximo. Olharia mais uma vez ao relógio, estava preocupado, pois sua irmã ainda não o tinha acionado pelo celular. *

°PAIN° fala para §-HaPpInEsS-§: Eu compreendo, e agradeço pelas palavras.*Dera um longo trago, sentia prazer com aquilo devo reiterar, o vício nunca olharia pra você com os olhares de quem condena. Ele consola e aquece as almas, ao reles preço de sua vida. Um preço justo devo afirmar.* Mas não me entenda mal, eu sinto uma enorme vontade de permanecer viva, de viver cada dia mais com perseverança. Apesar dos...*E eu puxei, um pedaço de faixa, apenas por faltar-me palavras no momento*... Pequenos contratempos. *Ajeitei as minhas lentes, que teimavam em escorregar* Já estive sem esperanças e enterrada no pior que a humanidade havia para oferecer. E prevaleci. Apenas tive a lição de que o mundo não é e nem deveria ser piedoso. Compreende Senhor? Só que eu tive de aprender as duras lições que, a rigidez e o raciocínio são as chaves que levam a percepção das coisas.

§-HaPpInEsS-§ fala para °PAIN°: Ah! Finalmente a luz no fim do túnel... *Deixava o sorriso iluminar a face, parecia agora já ter se acostumado com a fumaça, deixara de olhar o relógio agora e falava com entusiasmo. * Exemplos como você minha cara é que o mundo precisa... Isso mesmo nunca se renda... *Tentava buscar mais palavras de conforto, antes em demasia do que falta-las. * Fato é que nem tudo são flores realmente, mas cada um fazendo a sua parte já é algo válido! Sem formalidades, afinal tenho apenas 23 anos de vida... E pode me chamar de Happiness, ou apenas Happ... *Ainda mantinha o sorriso a face e levava a mão até a bengala.* Você seria ? *Eis que o celular toca, havia deixado no vibracall, sim olhava o visor e era sua irmã o chamando, parecia ter pressentido algo, afinal as afirmações sobre gêmeos terem uma ligação intuitiva era certa, ao menos entre Happ e Jealousy. Após conversar com ela, ele se levanta recolhendo a bengala. * Me desculpe, mas eu tenho de ir... Você ficara bem aqui sozinha?

°PAIN° fala para §-HaPpInEsS-§: Se estarei bem? Duvido muito, mas eu realmente espero que sim. *A piedade, ele tinha piedade de mim. O que significaria mais fardo para ele as minhas custas. Como uma máquina o mundo girava sem pena nem emoção. Eu me acostumei com isso, ao me levantar e ingerir mais duas pílulas de valium. O tumor na minha cabeça não me mata, apenas se diverte escavando meu crânio como velhos texanos correm atrás do bom e velho black gold. Eu rezo a Deus para que ele me devolva minhas glândulas sudoríparas. Meu corpo é um inferno de tão quente que está e a droga está cada vez menos fazendo efeito.* Boa noite senhor Feliz. *E eu andei, em meu fardo, queria morar em outro lugar, um lugar frio. Eu caminho de volta ao meu abrigo e tenho pensamentos ruins, enfiar a porcaria da minha faca através dos meus olhos e remover o tumor na marra. Mas eu tenho medo de viver se fizer isso. Eu não estaria nestas condições se não tivesse brincado com o que não devia. Eu ouço o choro de uma criança que acabara de perder os pais e percebo a grande canção. Aquele meu mundo não era um meio termo. Ele era o real inferno. Eu deveria me tornar como deus. Com sentimentos domados e ações pensadas e não precipitadas. Eu sou senhora de meu tempo. A caridade não estava em amenizar os fardos de cada um, ela estava em ajudar aos outros entenderem seu papel. E o meu papel? A insensibilidade é meu único caminho. Eu quase posso entender toda criação. Às vezes eu consigo ignorar minhas feridas, às vezes a droga ajuda. O meu mundo passa a ter um novo tom. Eu preciso entender, eu preciso ter o controle. Eu estou ficando louca. Acho que quebrei um dedo de tão forte que apertei a minha mão. O amor esta em conceder a morte e em fazer entender o sofrimento e não em perpetuar a decadência e amenizar feridas que não seriam curadas. Eu vejo a escória da sociedade, e já sei como vou aplicar a minha dor. Eles vão ser sortudos, eles vão ser muito sortudos por experimentarem apenas o frio metal* Estão com sorte hoje? Punks!

§-HaPpInEsS-§ fala para °PAIN°: Eu também espero, de qualquer forma, até mais... Boa noite! *Ficara assim sem saber o nome daquela mulher, respeitaria aquilo, talvez nunca mais a visse, mas aquele velho ditado é valido: O Mundo é pequeno, talvez a visse um outro dia quem sabe? Então acenou uma vez pra ela e retomou o mesmo caminho que chegara ali. Daria mais uma olhada para trás e vira Pain tomando outro caminho. Happ vira-se para frente, andando no seu eterno mancar, olhando o relógio uma última vez e então chega próximo do carro. Desliga o alarme, a porta se abre, adentra o carro já dando a partida e guiando o carro até a rua próxima onde buscaria a sua irmã, que estava a fazer compras para a nova casa deles.*

segunda-feira, setembro 18, 2006

Uma Noite Amaldiçoada

§Hope§ By §Sadness§: *Aquelas verdades eram fortes demais... Aquelas verdades feriam como punhais cravados em seu coração. Quão sombrias eram aquelas almas. Quão desprovidas de esperança elas pareciam ser. A dor daquele momento assolava seu coração. As lágrimas que eram derramadas na chuva, na tentativa de se manterem escondidas, não mais poderiam ser escondidas diante da expressão que começava a tomar sua face. Não... Ela não poderia ficar ali, não estava pronta para eles. Não quando Fear pareceu trazer uma tristeza maior ainda ao coração de Sadness, coração ao qual ela já tinha acalentado. Hope rebusca o ar, virando seu pequeno corpo... Corria... Corria com medo de que não fosse ser forte... Que aqueles sentimentos que eles possuíam fossem fortes o suficiente para fazer-la não acreditar mais em esperança... Não... Ela não poderia ficar ali... Não quando não tinha mais forças para ajudá-los... Fugia... Corria... Escondendo suas lágrimas para chorar sozinha na tempestuosa noite que caía sobre suas cabeças...*

§Fear§: *Havia questionado e sabe-se lá de onde tinha vindo a coragem que assolou seu peito para tanto. Apenas a sensação de que o mundo poderia não ser um local tão assustador estando ao lado daquela garota de cabelos castanhos tentava lhe trazer e do outro lado uma dor que talvez aumentasse ainda mais o seu medo. Limiar... Limiares são imprescindíveis ao ser humano, principalmente quando são especiais como o jovem de cabelos imaculadamente brancos que estava entre elas. Sentia-se no limiar, o limiar que pode empurrar você para o despenhadeiro ou te puxar para redenção. Isso deixava Fear ainda mais confuso. Ele perguntava e por que ela não respondia? Por que ao invés disto vinham mais perguntas da mulher de cabelos cinza? Vinham mais dúvidas, mais afirmações de tristeza e dor. Os olhos de um tom de castanho avermelhados focavam-se em Hope. E ela parecia não resistir ao seu próprio limiar. Quando não havia forças na corda para puxá-la para a redenção, ela fugia... Corria saindo dali, abandonando Fear, abandonando o coreto que agora sem a presença dela tornava-se ainda mais aterrorizante, e os olhos do garoto viam as sombras adquirirem proporções ainda maiores ao que imaginava como se pudessem engoli-lo "o medo, Fear, o medo nos engole" Por que a voz daquele homem do sanatório insistia em vagar em sua cabeça? A respiração... Assustou-se com o correr desgovernado da mulher que fugia e caminhou três passos paras frente, girando o corpo na direção da mulher de cabelos cinza* Por quê? Por que não pode ser diferente? Por que meu mundo se parece com o seu? *estava confuso, se sensações pudessem estar solidificadas ali, talvez Fear conseguisse tocar o que ela sentia com a palma gélida das mãos... Com a ponta dos temerosos dedos que iam à direção de Sadness para tocar de leve o rosto no desenhar sutil dos traços. E a consciência lhe vinha de uma forma gritante e maceradora. Estava só. Longe de casa, sem dinheiro, e só. * Eu... Preciso ir...

§Miss You§: *Ao longe... Enquanto a chuva caia, debaixo de uma grande e velha árvore estava ela... Ali parada, sentada e sozinha... Ela gostava de olhar a chuva cair mesmo quando era uma forte tempestade... Ela mal sentia a água e o frio... Parecia estar até acostumada com aquilo, vestia um vestido longo azul e simples com bordados de pequenos pássaros, este que estava grudado em seu frágil corpo, seus cabelos eram ondulados e negros com pontas em tom de roxo assim como as mechas frontais do cabelo que lhe caiam mescladas a franja sobre os olhos tom de mel, que meneavam algum brilho, ela tinha os lábios muito rubros e a pele clara numa mescla de tons rosa e branco.... Ela sorria... Mesmo com alguma lágrima no olhar ela sorria... Erguendo as mãos para as gotas que caiam dos galhos daquela árvore... Seus lábios murmuram em meio a um sorriso* como naqueles dias... A chuva também caiu forte naquele dia... Será que eles lembram? Será que só eu me lembro?... Foi sonho ou fantasia minha?... Quantos sentimentos mais perdidos eu ainda tenho, sendo que só me restou você que chora e sorri dentro de mim... *A jovem sorriu lambendo um dos dedos* O gosto da chuva é doce... Como eram doces as palavras de carinho em tardes de verão...

§Sadness§: *Fear podia ver aqueles olhos... Aquele olhar que naquela noite escura e tempestuosa pareciam cinza quando os raios iluminavam o local, mas pareciam tão sombrios diante da ultima afirmação feita por ela... Sadness mais uma vez abaixava o olhar... Escutava aquelas perguntas que iam e vinham em momentos tão dolorosos como aqueles* A diferença está na nossa força de vontade.. *murmurava de forma baixa* uma força que some quando nosso lado mais sombrio nos consome... Quando medos como os que você possui assolam os corações de tantos outros... Jogando-os na escuridão onde lágrimas e mais lágrimas são derramadas... *Seus olhos baixos não podiam ver a mão que se aproximava... Que pretendia tocar o seu rosto, mas que, no entanto o rapaz ficou temeroso... * “eu preciso ir" *Vinha a voz do rapaz amedrontado... No fim... Todos precisavam ir... Todos saiam dali e ela sempre ficava sozinha... Perdida no escuro... A derramar suas lágrimas* Parta... Parta como a menina que não suportara a verdade... *vinha a voz carregada de tristeza que derrubava sua dona... Que a fazia encontrar os joelhos ao solo encharcado... A cabeça se mantinha baixa... E a dor que a assolava diante da tristeza que a consumia estava assolando se coração... Não havia mais esperança... Nem mesmo um resquício restara... E ela chorava... Chorava deixando o corpo pender para frente... Deixava o corpo dobrar enquanto se abraçava gritava em meio ao choro desesperado* VÁ... VÁ EMBORA... DEIXE-ME EM PAZ...

§Curiosity§: *Caminhando na chuva como se não fosse nada, e observando tudo com admiração e interesse*

§Fear§: *Ele estava perto de quase tocá-la, sim Fear faria isso se o temor de tocar alguém e novamente machucar com seu aproximar, com seu acolher não fosse maior do que a tentativa de passar uma segurança que ele sabia que ela precisava. Os olhos castanhos avermelhados mantinham-se presos a ela quando tombou no chão. Pensou em abraçá-la e talvez acalentá-la, como tantas vezes nas frias noites do sanatório ele o quis, mas não fez... Não tocou... Não buscou amenizar a distância ampliada pela ausência dos toques. E ela tombava ao chão falando de seus medos, Fear sabia disto não necessitava que lhe fosse atirado à face com a violência dos grossos pingos de chuva que grudavam seu cabelo tão branco ao rosto... Não estava fugindo... Precisava encontrar um lugar para ficar. Aquele parque era perto do sanatório e não tardariam a dar por falta dele, não tardariam a procurá-lo e novamente viriam os comprimidos, as injeções, a maca, o choque e não... Fear não queria isto* Eu não... *não teve tempo de expressar o que pensava ou sentia, não naquele momento a mulher abria a boca e Fear podia ver com sua concepção deturpada causada por seu problema mental as presas que saltavam da boca daquela mulher. O rosto que parecia tomar traços grotescamente assustadores... Os olhos que pareciam adquirir uma forma demoníaca e o rosto do garoto amedrontavam-se por inteiro. Os olhos arregalavam-se num total desespero* FIQUE LONGE DE MIM!!!! FIQUE LONGE DE MIM!!!!! *gritava em desespero, ao ver aquele monstro em que ela havia se tornado, ela ou qualquer pessoa que alguma vez se aproximou de Fear depois da doença. Era difícil para ele ter a co9nfiança de estar perto daqueles seres estranhos que habitavam o seu mundo, afastava-se a passos trôpegos para trás, em gritos assustadores que ecoariam por todo o parque, queria ir embora, queria fugir. Queria morrer, ou atacar.*

§Anger§: *Seus dedos deslizavam sobre a gaveta daquele armário, como uma fuga desesperada de seus membros. O suor escorria-lhe do rosto e seus olhos concentrados lhe faziam desejar que tudo tivesse um breve fim. Os movimentos quase estáticos e as sobrancelhas levemente inclinadas demonstravam certa angústia, algo preso a garganta. Os dedos perspicazes encontravam, enfim, um metal gélido e de forma não tão incomum... De súbito o revólver era engolido pelas mãos trêmulas de Anger... Ela atirou contra si mesma... Um reflexo espatifado no chão, o que ela mesma não conseguia decifrar. Aquela imagem poderia ou não condenar-lhe... Deixou que a arma caísse de suas mãos em torpor e as lágrimas já não puderam ser contidas... Observou o membro esquerdo, erguendo-o devagar, enquanto semi-cerrava os olhos que teimavam em distribuir lágrimas pelo rosto. Um grito alto desferiu de seus lábios e finalmente caiu por terra de joelhos, prostrada sobre seu reflexo destruído... Alguns instantes fitando suas bochechas e olhos corados em vermelho, não titubeou, não hesitou em suas ações, apesar de não responderem por ela: segurou um dos cacos de vidro e o comprimiu com tal força que seus dedos sangravam, sua pele cortava e sangrava... Mesmo não suportando as dores que aquele ato investia continuou fazendo sem temer a nada. Os gritos sofridos e os ruídos raivosos que fazia com a voz eram agonizantes...*

§Vengeance§: *Aquela chuva era bem vinda. Pesava aos poucos sobre as vestes do jovem, silencioso e ímpar, distante entre as gotas frias do temporal. Ela lavava a alma arredia,simplificava tudo em sons e sensações e acima de tudo,brincava com o silêncio.Dali, ele mal se movia... Somente seu peito, que enchia e sorvia o ar frio e úmido, tão bem recebido pelos lábios entreabertos... Aos poucos, um sorriso se abria. Parecia pesado e desenhando forçadamente, ganhando espaço na face com cautela... Mas, ele se permitia sorrir, embora seus olhos, não se prendessem a nada que não fossem seus próprios pés descalços e se ocultassem, por entre os fios escuros de seus cabelos molhados.* ...Noite... Sssim... Noite... *Como um sibilo sensual era sua voz, rouca e baixa, como um vento quente do deserto, que para seus ouvidos e só eles, se soltavam naquele momento... Levou a mão a tocar o pequeno poste de metal à direita do corpo e nele se amparou, deixando os ombros sentirem o frio do ferro escuro... O rosto, pouco a pouco era banhando pela luz, revelando as feições belas do jovem oriental, molhando-as, revelando-as para a rua deserta.* Noite... Que sejas tu então, minha aliada.

§Sadness§: *Fear gritava para que ela saísse de perto dele... Gritava em completo pavor e se afastava dela... Sadness deitava-se no chão... Encolhida diante de tudo aquilo... A dor da tristeza era grande demais para ela* AAAAAAAAAAAAAAAAAAa *gritava em meio aquela tristeza enquanto o rapaz fugia e os choro vinha em rebuscares de ar intensos, naquele lamuriar sofrido... Ela se ergue... Suja de barro... Onde os cabelos cinza colavam ao seu rosto e com passos lentos ela se afastava dali... Andava sem rumo... Sem esperança de encontrar alguém que viesse abrandar aquela dor...* Por que é tão difícil? Por que fazes isso comigo? *se abraçava, enquanto andava de cabeça baixa... Como gostaria de arrancar aquela dor que a assolava em meio as lágrimas que não cessavam* POR QUÊ? POR QUE É TÃO CRUEL COMIGO? *gritava mais uma vez em meio ao pranto sozinha naquela noite...*

§Anger§: *Mais uma vez a arma que antes estava em seu poder fervia aos seus olhos, como borbulhas. Esticou a mão sã e o trouxe para si...* Idiota... *sorria-lhe como quem sorri com ódio. Sua voz mal saía de sua boca e o ar que respirava doía-lhe nos pulmões. O sangue espalhado pelo chão tornou-lhe ainda mais desejável... Vagarosamente ergueu-se do túmulo e caminhou como um manco até o banheiro. A arma pendurada balançava como um pêndulo em seu dedo indicador, mas não largava... Sua mão, em abundante sangramento, deixava rastros pela sala e chegando ao banheiro parou frente a farmácia e, novamente, ela estava lá... Aquela garota lhe encarava e sua expressão era de dar calafrios... Posicionou com dificuldade o dedo indicador da mão ferida e escreveu com seu próprio sangue no espelho:* Raiva... Apenas o que sinto... *espalmou sobre aquele mesmo vidro e o sujou com seu sangue. Abriu a farmácia e achou gases, as usou para cobrir a mão ferida... No fim embainhou em seu cinto o seu companheiro inseparável e seguiu porta fora, despreocupada com chuva ou qualquer coisa que lhe caísse sobre os ombros*

§Vengeance§: *Arriscava um único passo adiante, sentindo a falta do chão abaixo dos pés... Era a rua longa e escura, cheia da água que ainda caía insistente e fria, que deixava sua existência bem clara ao tocar nos dedos nus do jovem. Poucos passos, o rosto que se mantinha voltado à frente, guiando o andar meticuloso e calmo, como se aqueles fossem os primeiros passos que dava em sua vida, que não fora curta. Com um solavanco, os pés pararam poucos centímetros antes de se depararem com a calçada alta que indicava o fim da travessia silenciosa... Um breve relâmpago iluminava a cidade atrás de si, mas seu semblante não se modificava. Um pé após o outro, tomava a calçada nova, do lado novo da rua , estendendo a mão no vazio em busca de apoio.*

§Miss You§: *A chuva continuou a cair cada vez mais e mais forte... A noite se postaria longa e Miss You começava a sentir frio* ...Eu queria ter alguém agora... Aqui comigo *fechando os olhos e sorrindo* ...Alguém para abraçar... *sorriso doce e frágil* Eu me lembro que você gostava quando eu te abraçava... *envolvendo-se nos próprios braços* Eu me lembro que você sorria quando eu te deitava no meu colo e ficava afagando seus cabelos embaixo dessa mesma árvore... *ela olha para os galhos da árvore sentindo algumas gotas caírem em seu rosto* ...Mas hoje... O que restou de você se é só lembrança... Se é só saudade... Como todos os outros você seguiu sua vida... E eu já não sou mais necessária nem amiga... Será que existem pessoas nesse mundo tão vasto que gostariam de deitar no meu colo e sentir a brisa de uma tarde de verão como você sentiu?... *ela deixou a franja lhe cobrir o rosto ficando por um tempo em silêncio como se a esperar por alguma resposta... Seu sorriso estava belo mesmo com as lágrimas que caiam mescladas a chuva, naquele delírio, lembrança ou sonho ela se deu conta do mundo a sua volta ouviu gritos. Viu o rapaz gritando e fugindo de sabe Deus o que... E viu ao longe uma figura humana caminhando e logo gritando em seguida... Miss You ergueu-se um tanto quanto assustada olhando para as pessoas que seguiam em direções diferentes...* O que... O que... Eu devo Fazer?... O que eu posso fazer...? * Ela tinha medo agora... Pois não sabia se seria bem vinda... Esse era um dos grandes temores de Miss You... Sentir que nunca seria bem vinda por ninguém...*

§Sadness§: *Sadness fechava os olhos fortemente e então começava a correr. Corria o mais rápido que podia... De cabeça baixa deixando as lágrimas mesclarem-se à chuva... Quantos outros ela perdeu? Quantos mais ela perderia... Sim... Triste era sua vida... Em que, por mais que ela tentasse mudar, as noites eram sempre as mesmas... Lágrimas que eram derramadas... Derramadas em sua tristeza... Tristeza que vinha com dor... Com saudade... Com incompreensão... Com tudo misturado... Mas o mais forte era a tristeza que a assolava... Talvez solidão... Talvez nada... Saía do parque correndo... Ganhando as calçadas sem olhar para frente... Sem olhar ao redor... Sem olhar nada, pois seus cabelos cinza não permitiam ver... Sua tristeza não permitia ver... Ela não via... Não via que no mundo outros existiam, empurrava aqueles que no seu caminho entrassem buscando um apoio que fosse... Alguém que a parasse.*

§Fear§: *E por que tudo tinha que ser tão escuro e frio? Fear havia conseguido fugir daquela mulher com feições demoníacas. Ao menos em sua mente fantasiosa ela parecia daquela forma. Sabia que não era real, seu ser compreendia isto, mas sua mente perturbada não lhe deixava enxergar as coisas com esta consistência. Correu. Correu pela chuva com a roupa verde a se grudar em seu corpo esguio. Era magro e o tecido folgado parecia se grudar como se pudesse ser uma segunda pele para Fear. Os olhos recebiam os grossos pingos de chuva e as mãos pálidas tomavam os ouvidos. Ainda podia escutar os gritos daquela mulher. Gritos que se misturavam com os urros que seus ouvidos teimavam em fazer com que escutasse. Corria como se pudesse salvar a própria vida ao sair daquele parque, ao esbarrar em pessoas e o mundo agora lhe parecia ainda mais aterrorizante... Ruídos... Carros... Faróis... Gente que se esbarrava nele em busca de abrigo... Corria para a pista sem sequer olhar para o lado, ou mesmo escutar o ruído de buzina que se fazia próximo... Próximo demais de Fear*

§Miss You§: *Ela ficara confusa, mas como sempre agia, deixou que seu coração a guiasse* ...Vou pela direita... *De olhos fechados então ela correu os pés na sapatilha azul claro ganharam o chão, as ruas, as calçadas* Para onde ele foi? *Ela correu tentando vê-lo no meio da chuva e das pessoas com seus guarda-chuvas tentando se esconder da água fria e forte que caia dos céus, mas Miss You quando olhou o jovem lembrou-se de uma pessoa... E seu amor, sua fé, tristeza, saudade, tudo se misturou seus olhos encheram-se de lágrimas quando viu a cena que poderia acontecer... Foi como uma visão há muito tempo já sonhado por ela, um pesadelo que ela temia dias e dias noite após noite... Ela não viu o moço em si, mas viu o rosto e o corpo de um amigo há muito já perdido pelas areia do tempo, mas que nunca deixara de ser amado... Com força e alguma coragem Miss You o agarrou, segurando-o e caindo ambos no chão, ela o segurou tão forte e com tanto carinho quanto podia. O carro passou e ela ainda podia ouvir os insultos do motorista gritando... Algumas pessoas olharam curiosas, mas nada fizeram e Miss You apenas disse afagando os cabelos daquele desconhecido.* Está tudo bem agora... Eu não vou deixar que você se machuque...

§Fear§: *Tempo... Tempo, tic... Tac... Tic... Tac... O que era mesmo o tempo quando se está a beira do precipício? Quando seu medo lhe empurra para cada vez mais longe de tudo e todos? Segundos, como um passe de uma mágica refeita, de um ballet trôpego o jovem de cabelos brancos virava o rosto na rua, Chuva, faróis, buzinas... Ruídos e trechos de sua vida lhe passavam nas vistas. Um tempo em que não tinha medo de nada e queria voar. Um tempo em que braços fortes o erguiam no ar e o faziam girar e era tudo tão claro e calmo, tudo tão seguro, não um turbilhão como agora... Segundos... Tic... Tac... Tic... Tac... E não tinha mais tempo... Não fosse o sentir de algo que o tomava com os braços, que vinha rápido e o empurrava para fora da rota do automóvel. Mãos que seguravam com pressão seu braço e no impulsionar acabavam tombando. Os olhos arregalavam-se para a noite. Medo, frio, escuridão, e mais gritos. A moça que o havia salvado podia escutar o bater acelerado daquele coração tão perto dela. Podia sentir o tremer do corpo que estava ali. O contorcer receoso que vinha quando as mãos dela afagavam seus cabelos brancos como a neve do ártico. Os olhos castanhos avermelhados viravam para o rosto próximo e irradiavam temor... Um temor que quase podia sentir o cheiro da falta que parecia vir daquela mulher. E ele conhecia tão bem aquele tipo de cheiro... De sensação... Fear pagava um preço por ser especial em sua doença... Pagava o preço da sensibilidade como todo o medo se faz sensível. Ao toque, ao ser, ao saber... E ele tinha medo da falta. De pessoas que estavam em sua vida agora e depois? Depois você era esquecido como um livro velho e inútil. Depois você não era mais nada... E Fear tinha medo de não ser nada um dia. Mas deixou-se acariciar pela mulher que lhe dava acalanto. Deixou os olhos fecharem num pranto que vinha doido pela busca de segurança e abraçou-se a ela, chorando copiosamente ao escutá-la dizer que não deixaria que se machucasse... E Fear se perguntava se aquilo era possível... Se existiria um mundo isento de dor... E medo*

§Sadness§: *Parava os passos, voltava para trás. Rebuscava o ar de forma incessante. Sentia o coração bater naquela dor que a tristeza lhe permitia sentir. Queria morrer... Queria que a dor cessasse... Mas nada adiantaria... De nada serviria aqueles pensamentos que sempre lhe assombravam... Dava mais alguns passos adiante e as poucas pessoas existentes em tempos como aquele, apenas abaixavam seus rostos e seguiam adiante* Por que? Por que me abandonou? O que eu fiz? Por que todos se foram? *Murmurava quase sem voz em um fino choro* Por que mentiram? *Como era difícil caminhar daquele jeito. Como o parque parecia confortável em sua solidão... Em sua escuridão... Agora carros iluminavam aquele rosto... Aquela mulher com as roupas e cabelos sujos de barro... Levava uma das mãos em frente aos lábios... E soluçava entre rebuscares de ar* Por que mentiram para mim? *Mordia de leve a mão... Forçando os maxilares em um morder mais forte em sua própria mão... Fechava os olhos, querendo que a dor levasse a outra dor que ela sentia... * Por que me abandonaram? *Mais uma vez vinha o pranto, quando cobria o seu rosto... Ficando louca em sua tristeza, pois a mesma parecia responder-lhe... Parecia sussurrar para que ela entrasse em desespero... Murmúrios, Buzinas... Faróis acesos... Faróis que ofuscavam seus olhos diante das lágrimas e da chuva* POR QUE O SILÊNCIO? *gritava em suas lágrimas perdidas buscando uma parede que fosse... Deixando os pensamentos lacerarem seu coração por ela ter sido tão cruel com Hope... Por ter feito a tristeza que ela sentia abraçar mais uma pessoa...* por que tudo isso?

§Miss You§: *Quando a jovem o ouviu chorar... E sentiu-se abraçada, os olhos tom de mel iluminaram-se... Por um instante ela sorriu... Por um instante ele lhe veio à mente junto de todos os outros... Ela deixou que algumas lágrimas de uma singela felicidade a tomassem ela não sabia explicar por que tinha feito aquilo por um estranho... Mas quando sentiu que era abraçada que alguém no mundo precisava dela... Miss You não conteve o sentimento mais belo que surgia no seu frágil coração... Seria este o amor pleno que se é ofertado a alguém sem nenhum interesse...? Seria isso o que muitos chamam por sonhos de Amizade?... Ela já havia perdido a noção de quanto tempo se passara... Ela já havia perdido a noção do que era certo a se fazer... Ela só queria proteger alguém e ser amada... Como fazia em antigos dias...* Venha... Não chore... Eu ajudo você a levantar... Olha, as pessoas estão olhando... O carro já foi e tudo passou... Logo até mesmo a tempestade passa... Tudo sempre passa é o que eu digo sempre... Por isso venha vamos levantar *Sorrindo oferecendo ajuda ao estranho, mas Miss you não ofertava apenas ajuda, mas também ofertava um espaço em seu tolo e frágil coração.*

§Fear§: *Tempo novamente e Fear não percebeu quanto tempo se passava, ou quantos grossos pingos de chuva molharam ainda mais seus cabelos grudando-o ao rosto. A roupa verde bebe que se colava ainda mais ao corpo, suja inteira pela queda. O tremor que tomava seu corpo por imaginar não as mãos delicadas a afagarem seus cabelos, mas mãos distorcidas e com pêlos por toda parte. A distorção da realidade, um dos princípios do medo. Um dos princípios de sua doença. A mulher o soltava e Fear sentia como se desgarrado do leito materno. Como um bebê deve se sentir ao ser arrancado do útero em um parto. Levantou logo após ela lhe ofertar ajuda e o rosto assustado mantinha-se ainda na desconfiança no não saber se realmente deveria permanecer perto. Tinha medo... Medo de acreditar de confiar novamente em alguém. De deixar que laços de amizades ou de um amor maior pudessem ser formados e depois fosse abandonado. Deu um passo para trás, meneando a cabeça negativamente, não podia entrar novamente em desespero. Tinha que controlar a respiração. "Todos mentem, Fear, todos se aproveitam e enganam. Quem hoje te acalenta e te jura proteção e amor eterno, amanhã te arrancará a cabeça. Tema Fear... Tema as vozes doces e cálidas muito mais do que aos gritos de guerra. Dos inimigos tu sabes o que esperar... Mas e dos teus companheiros?" A voz daquele homem insistia em retumbar em sua mente e Fear dava um novo passo para trás, tentando controlar o próprio respirar*

§Vengeance§: *Tinha a impressão de estar contido em um silêncio único. Nada existia ali... Carros... Sons... Cores... Nada que atingisse suas sensações e pensamentos focados para um único ponto. A mente sagaz e amiga fiel, sempre funcionava baixinho, lhe sussurrando as palavras de que necessitava nos momentos certos. Mas num repente, a quietude pareceu ruir. Como uma parede fina de papel, que é desfeita com a água daquela chuva. Rapidamente, o jovem ergueu os olhos. De uma só vez, como uma explosão da qual não se pode fugir, deparou-se com sons altos e luzes doloridas, que atingiam seus olhos claros.* ...Mas... O que... *Não havia tempo para perguntas ou respostas, apenas o curto instante que se passou entre mais sons e uma voz desesperada, cheia de questões maiores que as suas, que iam guiadas por pés descontrolados e sem rumo, por mãos estendidas em busca de apoio.* Chega. *O jovem estendeu as mãos diante do próprio corpo, procurando segurar a dona de tantas lamúrias. Esperou o peso daquele corpo molhado ser sentido pelas palmas frias e pelos dedos, para só então contê-la por perto e respirar com calma.* Chega...

§Sadness§: *Sadness em sua cegueira diante de tamanha tristeza, não via os passos que ela dava, não conhecia os caminhos que ela tomava... Apenas aquela dor era sentida e nada mais parecia existir. Deixava as mãos abraçarem o corpo em seu pranto doloroso, até sentir um apoio... O apoio a segurava, o apoio deixava que o peso de seu corpo encontra-se um local para esconder o seu rosto... Era um apoio frio que a continha e que falava em um respirar calmo* "Chega" *Aquelas palavras ressoavam em sua alma... Ressoavam em seus ouvidos... E ela se mantinha ali... Naquele apoio que dizia de forma calma* "Chega" *E suas mãos se moviam... Com tantas perguntas que não paravam de questioná-la... Mas aquela voz naquele respirar calmo dizia “Chega”... Ainda ressoava em sua mente e os dedos cerravam-se nas roupas de quem a segurava, onde as lágrimas ainda eram derramadas e o choro tentava ser contido* Mas dói... Dói...

§Miss You§: *Ela o olhou daquele jeito... Fear se afastando... Miss You suspirou puxando o ar e sentindo a chuva que parecia estar começando a ir embora* Eu disse que tudo passa... Veja o céu... As nuvens estão indo embora... Assim como você... Tudo passa coisas boas e ruins... Por um breve instante eu fui útil a alguém... Por um breve instante eu pude ofertar meu carinho e meu amor a alguém... Mesmo que esse alguém agora esteja indo embora... Você não é meu amigo que eu perdi há alguns anos... *Ela o olha diretamente nos olhos* ...Desculpe por qualquer incômodo que eu possa ter causado... Desculpe pelo modo que falei tão intimo... Espero que você não se me machuque... Vá pra casa e descanse... *Miss You se despedia do estranho com um sorriso... Mas ele pode ver algumas lágrimas na face dela... Ela se virou e começou a andar... * Ao menos... Eu consegui salvá-lo da morte... Isso deve ter sido algo bom não é... *Ela caminhou devagar passos arrastados... Chorando escondida, um choro bobo quase infantil no meio de um largo e belo sorriso.*

§Vengeance§: As feridas sempre doem. Ainda mais quando abertas por outras mãos... *Devagar ele escutava a voz dela ressoar entre as gotas da chuva pesada e os sons que haviam surgido num repente naquele contexto da noite. Não fixava seus olhos nela, apenas a segurava enquanto seu desespero a fazia se embrenhar entre suas vestes, derramando suas lágrimas como a tempestade. Ele não compreendia o porquê do desespero e da dor, mas seu silêncio vinha paciente, sem um acalento ou conforto para aquela entre suas mãos. Afastou-se apenas um passo, jogando uma das mãos para trás, tateando o ar devagar para sentir-se seguro, até parar e mover o rosto para o lado, deixando os fios dos cabelos lhe ocultarem o belo rosto.* Diga-me. Quem lhe feriu assim?

§Fear§: *Ele mantinha-se dentro de uma distância considerada segura pela mente atormentada meneando negativamente a cabeça enquanto as mãos tomavam os ouvidos. Enquanto o respirar tornava-se denso no limiar do suportável. "Tudo passa"... "Coisas boas e ruins..." ele continuava o menear da cabeça negando a si mesmo as verdades que Miss You estava dizendo* Passa... Tudo passa... *Murmurava num abrir mudo de lábios, Fear não era alguém que ela perdeu e buscava em rostos desconhecidos. Fear era o que mais temia, era ninguém... Desde quando fugira do sanatório... Lá também não era alguém... Era números... "Caso 75" e vinham as pranchetas e Fear era arrastado para a sala escura... Para a gaveta... Não... Meneava ainda mais a cabeça, não queria voltar para lá. E a mulher que há pouco havia lhe poupado a vida desculpava-se por ter sido intima demais... E o mandava ir para casa descansar. Os olhos castanhos avermelhados mantinham-se presos a ela enquanto ela virava-se e arrastava os passos, derramando lágrimas em meio ao sorriso belo. * Vá pra casa... Eu não tenho casa... *Falou baixo para si mesmo, como uma constatação.*

§Sadness§: *Ela podia escutar aquela voz... Aquela voz que dizia sobre feridas e que a mantinha ali, quando ela estava sem rumo... Dando a ela um local para ficar... Mesmo que fosse um local passageiro... O silêncio tomava o lugar, se fazia presente e os olhos dela não queriam olhar para quem dirigira palavras a ela... Vengeance se afastava... Se afastava deixando-a solta naquela imensidão que parecia se tornar a distância entre ambos... E ela pode ver apenas o recuar dos passos do rapaz... E erguer os olhos entre os fios cinza de seus cabelos, vendo-o buscar um apoio... Pois assim era o que aparentava* Todos.. *ela murmurava de forma baixa... Abraçando o próprio corpo* Não há uma pessoa... Que não tenha me ferido... *A voz saía fraca... Mas havia uma dor maior... Uma dor que ela mantinha aprisionada em seu coração, mantendo aquela dor lacrada em sua alma* Tantas mentiras... Tanto silêncio... Você não entenderia... *ela voltava a baixar a cabeça* Ninguém nunca entendeu... *Devia se silenciar... Devia guardar aquela dor para ela... Aquelas lágrimas para ela... Ele havia dito chega... E o Chega parecia se impor na mente de Sadness*

§Miss You§: *Ela pode ouvir aquela frase... Num último ensejo de esperança ela sorriu virando-se para Fear e ele pode ver o sorriso entre lágrimas...* Então busque um lugar que seja teu lar... Busque alguém para te ajudar a encontrar um lar... *Ela mostrava uma tristeza antiga... Mas seu sorriso era tão belo, tão calmo... Quase como uma brisa do mar que parecia querer oferecer esse lar para ele... Mas ela não dissera nada a não ser uma coisa boba* Tudo passa um dia moço... Eu sou a prova... Eu vivo triste, mas sempre sorrio... Por que tenho lembranças boas comigo e elas me mantém viva... Por mais ínfimo que possa parecer... Eu estou viva não estou? E se eu não sorrir pra mim mesma quem irá sorrir?... *Ela abaixou a cabeça* Me perdoe outra vez por lhe falar coisas tão tolas, eu sou assim mesmo, boba e sem jeito com as pessoas... Um amigo tinha me dito que eu sou assim sabe? ...Só sei amar sem freios e sem noção do certo e do errado... *Ela volta a andar* ...Eu sou assim não é mesmo?... *Falava agora sozinha... Era assim que sempre estaria sozinha... E o estranho parecia não querer ela por perto, Miss You murmurou com sua larga tristeza que tomava conta de seu sorriso* Eu nunca serei bem vinda por ninguém, não é mesmo? ...Sempre sorrirei por entre lágrimas... Silenciosas que ninguém pode ver....

§Vengeance§: Todos...*Ele repetia a palavra com um tom calmo, naquela voz tão única, capaz de embrenhar-se até nos corações mais puros. Vagarosamente sorriu um sorriso que despontava uma malícia pequena naqueles lábios, como um veneno fino a escorrer entre os dentes, como se tivesse ali uma serpente guardada, no lugar da tenra e úmida língua.* Todos podem nos ferir, sim. Decerto podem. Mas não podemos nós, ferir-los também?... *Silenciou-se enquanto os dedos seguiam a afastar os fios escuros da face, deixando o olhar sem vida fixado em um ponto qualquer da calçada, onde morriam as cores e os brilhos da vida.*

§Sadness§: *Vengeance falava aquela palavra de uma forma que chegava aos ouvidos dela... Que entrava em sua mente enquanto ela se encontrava naquela tristeza aonde ela dizia que todos a feriam... Seus olhos acinzentados não viam aquele sorriso que surgia nos lábios do rapaz... Aquele sorriso provido de malícia e que agora trazia palavras que ressoariam a cada retumbar do coração* "Mas não podemos nós, ferir-los também?" *Ferir-los... Ferir-los... Ferir as pessoas que a feriam... Mas Sadness ergue os olhos na direção do rapaz... Ela se culpava por achar que as pessoas se afastavam dela por algo que ela tenha feito de errado... Por vezes descobria o contrário... E então chorava mais ainda ao ver que as pessoas mentiam e ela não era forte... Não era forte para vencer a tristeza que a dominava e ela suspirava em meio a tudo que ela já tinha ouvido... Momentos de esperança... Momentos de medo... Mas ali em sua mente a voz do rapaz ressoava... Mesmo que ele não olhasse para ela... E nem mesmo ela mantinha o olhar muito tempo sobre ele* Ferir-los trará um silêncio maior... Irá afastá-los... Não... Não quero isso... *Ela murmura a última frase* Por que faz isso comigo? Por que traz mais dor? *Não... Ela não conseguia se silenciar... Queria poder se sentir segura de novo... Queria poder sorrir... Mas há tanto tempo não fazia isso...*

§Vengeance§: *Por aquele momento, naquele ínfimo momento, o silêncio parecia retornar aos ouvidos do jovem. Era pálido e sutil, como as próprias palavras de seus lábios e raramente seu olhar se enchia de um brilho estranho, pesado e rancoroso, que se direcionava na direção daquela próxima a ele... E naquele instante, sua mente parecia ferver, assim como seu sangue, enchendo seu rosto com um rubor sedutor e suave, que transformava sua palavras em um néctar muito mais saboroso e persistente, como um doce cuja primeira mordida convida a outras mais.* Afastará sua dor. Afastará aqueles que a machucam... Não se machucará nunca, nunca mais... *O único passo que o separava dela era quebrado e a mão fria posta em seu ombro. Diante de Sadness ele era altivo e poderoso, embora vago e vazio, assim como as sensações que emanava a cada sílaba* Não lhe trago mais dor... Lhe ofereço a redenção das que possui, criança.

§Fear§: *Fear parava alheio às pessoas que ainda passavam por ele naquele momento, as mãos paradas ao longo do corpo, e tentava não ter medo, talvez fosse melhor voltar ao sanatório, para a segurança das paredes solitárias, do muro que de certa forma lhe protegia. Mas havia gostado tanto de conhecer as cores do lado de fora, os tons, os verdes, azuis, vermelhos, havia toda uma beleza em respirar o ar de fora das muralhas, das paredes do manicômio. "Busque um lugar que seja seu lar"* Lar.. *murmurava num misto de saudosismo talvez. Um dia Fear teve lar, um dia Fear teve pais, irmãos, um amor. Mas veio a maldita doença e lhe tirou tudo que tinha. Deixou a Fear o nada... "Nunca dê ouvidos a estranhos Fear" A voz do homem vinha como um sopro cruel aos ouvidos que tencionavam a escutar o que ela dizia... Nos pés que temerosamente deram um passo à frente, quando ela falava que sorria mesmo estando em sua doce tristeza. E novamente a mulher que lhe salvou a vida lhe pedia desculpas, Fear não entendia. Há tempo não sabia o que era carinho ou acalanto. E Miss You falava que amava sem freios* Por quê? *Foi a pergunta quase infantil que lhe brotou dos temerosos lábios quando ela falava, por que ela amava sem restrições o amor incondicional? Por que ela amava alguém que podia lhe machucar, lhe ferir, roubar? Aquele mundo que ele via, o mundo dos monstros estranhos era tão cruel e diferente do mundo em que havia se trancado... Mas ela se virava e continuava o seu seguir deixando Fear mais uma vez sozinho* Por quê... *murmurou enquanto deixou que os pés girassem seu corpo suavemente na direção oposta a dela "O medo de ferir afasta as pessoas Fear... O medo de ferir te impede de viver..." Vozes são como anjos ou demônios muitas vezes... E Fear iniciava seu caminhar silencioso por entre as pessoas, buscando afastar-se ao contato, buscando esconder-se em meio a elas.*

§Sadness§: *Silêncio... Como o silêncio podia ser cruel para Sadness que queria sair dali... Sair da presença daquele homem que trazia a sua alma uma sombra maior do que ela poderia sair... Pálido em sua pele... Como um fantasma que vinha para lhe assombrar os pensamentos... Mas sutil como uma serpente que envolve em um abraço mortal... Vengeance podia notar a moça de cabeça baixa, sem conseguir encará-lo com tudo o que ele dizia... Pode ver Sadness abraçando o próprio corpo e virando a face... Não... Nem mesmo Sadness em sua tristeza poderia notar as mudanças que pareciam surgir no rosto do rapaz... Ele falava sobre afastar a dor... Sobre afastar aqueles que a machucavam... Falava que nunca mais ela se machucaria... E então ela sentia a mão dele mais uma vez repousar sobre seu corpo... Ele repousava sua mão sobre ao ombro de Sadness e ela erguia os olhos mordendo os lábios diante de tantas promessas que ele fazia... Ele parecia tão distante... Mas ao mesmo tempo tão acolhedor com suas promessas... Redenção... Ele traria redenção... Faria a dor parar... Faria com que aquela dor parasse de castigá-la.* Você irá me ferir... Me fará derramar lágrimas como todos os outros fizeram... *A voz vinha fraca... A chuva em muito já havia diminuído deixado assim as lágrimas realçarem mais naquele rosto de traços finos.* Por que faz promessas que não pode cumprir? *ela finalmente olhava nos olhos dele*

§Vengeance§: *Apenas notava os leves movimentos, escutando-os como as folhas que a brisa fria da chuva carregava, pesadas e arrastadas no cimento duro das calçadas. Mesmo diante de Sadness, o jovem não parecia vê-la, ou sequer buscar seus olhos com sua face melancólica e suplicante. Mas seu sorriso permanecia, como se tivesse sido engastado na pedra alva de sua pele.* Jamais iria a ferir. Se lhe ofereço algo tão bom, por que estaria interessado em lhe machucar? *Dedilhava a pele molhada dos ombros dela, caminhando lentamente ao seu redor, deixando-se guiar pela sensação do contato entre eles. Sibilante, de rosto baixo e fios a ocultar as feições, seguia o círculo em torno dela, como um ritual de conhecimento, arfando levemente o ar ao seu redor, antes de aproximar os lábios aos poucos do ouvido de Sadness, deixando o sorriso esboçar um breve canto de hálito quente* Pense. Não a conheço, portanto, não há promessas entre nós... Mas também, não existem mentiras, pois para mim, nada em ti interessa. *Estancava diante do rosto da jovem, jogando os cabelos escuros e finos para trás. Olhos vazios, sem vida. Tal jovem, era cego.*

§Miss You§: *Ela parou de repente... Ouvia os porquês de Fear... Ela queria virar e oferecer a ele seu carinho quem sabe alguma ajuda... Mas ela agora tinha medo... Ela agora tinha seus próprios fantasmas... Toda aquela cena a fazia lembrar de dias ruins dias negros como ela chamava...* Não... Vão embora... Me deixe com os dias dourados... Eu não quero os negros... *Murmurando baixo* O que eu posso fazer se não querem a ajuda que eu ofereço... O que eu posso fazer... Se eu... Já... Não sou mais ninguém... Se eu não tenho mais ninguém? ...Ao menos eu consegui ser útil a um estranho... Que espero poder ter feito algo bom para ele... *Ela sorriu novamente andando* eu queria tanto rever vocês... Sentir o abraço de vocês... Mas nem sei mais se vocês existiram ou não... *Ela olhou os céus vendo as nuvens partirem abrindo-se aos poucos começando a emanar fraco o brilho de alguma estrela... *será que tudo não foi mera Ilusão desse coração solitário e vazio? *ela voltou a andar* Não existe mais ninguém pra mim... *Sorriso* Sua boba... Você já sabe disso... Continue a andar... Vá pra casa... Ninguém no mundo hoje deve precisar mais de você... Você não poderá mais ser útil por um bom tempo ao que parece...

§Sadness§: *Ela via aquele rapaz diante dela, com os cabelos a esconder seus olhos, ele ainda falava tal qual uma serpente a dar o bote... E sorria com aquela malícia que havia de existir em seus lábios, dizendo que oferecia algo bom a ela... Que ele não estava interessado em machucá-la... Mas ele ainda não respondeu sobre promessas... As promessas que ele fazia e que não poderia cumprir... Dedilhava no ombro dela... Circulando como uma fera diante de sua presa... Ela escutava quando ele falava ao seu ouvido... Falando para ela pensar, pois ela não o conhecia... Ele falava que não poderia haver promessas, mas também dizia que não havia mentiras... Mas o final da frase... Quando ela estava para abaixar a cabeça com todo aquele entoar que martelava em sua mente, o final da frase a fazia erguer a face novamente* "Nada em ti me interessa"... *ela olhava para aquele homem que tentava trazer alguma razão para sua mente... Que tentava mostrar que a tristeza era apenas uma ferramenta de algo maior... E em meio àquilo tudo vinha a surpresa... Vinha o retorno das cenas em sua mente... Cego... Ele era cego... Vengeance tateava o ar não em busca de algum apoio por conta do que ele parecia sentir. Mas por ser cego... Alguém que tentava fazer-la enxergar algo e ela fechava os olhos, baixando a cabeça* Se nada em mim te interessa... Então não terá coração... Não compreenderá minhas dores... Nem poderá dizer as palavras certas *Ela falava de forma baixa* Por que faz isso comigo? Por que me deixa confusa com tuas palavras? Eu apenas quero que as coisas retornem... Retornem a ser o que eram... Apenas quero os sorrisos... Tempos antes vividos... Antes da dor... Antes das lágrimas... Antes da solidão... Do silêncio... Da escuridão... Será que é tão difícil isso?

terça-feira, setembro 05, 2006

A Aparição de Fear

§Fear§: *Chuva.. balançava o franzino corpo sobre o galho da arvore onde estava sentado.. chuva.. fechava os olhos constantemente angustiados enquanto sentia os respingos que se resvalavam das folhas da copa daquele carvalho. Por que elas não iam embora? Por que elas permaneciam ali? Fear já não sabia mais o que se misturava em suavemente, se eram vozes reais ou imaginarias? Ainda tinha no punho a fita de identificação do sanatório de onde fugira mais cedo, e agora estava ali naquele galho daquelas árvores, sim era seu lugar agora.. mas por que elas não iam embora? Escutou os gritos que ressoavam em sua cabeça, gritos que o amedrontava desde sempre.. mas as vozes não ressoavam apenas em sua cabeça agora.. pareciam estar a ecoar por todo o lugar.. e os olhos de um castanho avermelhado do garoto se abriam, quando os cabelos brancos começavam a grudar-se na pele.. os olhos vertiam para o coreto, onde duas mulheres pareciam conversar.. as mãos iam ferrenhas até a fronte e batiam espalmadas, enquanto ele tentava fechar os olhos novamente. Por que via as coisas daquela forma, por que via tantas cores e imagens disformes, sua mente lhe dizia que não .. que não eram assim que eram normais, mas por que seus olhos lhe mostravam seres tão assustadores de grandes garras? medo..medo.. fechava os olhos com mais força balançando-se no galho.. e as vozes.. as vozes ainda retumbavam.. "um dia,.. quem sabe" *
- Um dia..
*murmurava enquanto os dedos sujos de terra deslizavam pelo botão da camisa bege*
- Um dia.. um dia.. um dia..
*mordia o lábio inferior com enorme força *
- Quem sabe?
*sentia o coração descompassar como se a qualquer momento pudesse lhe saltar pela boca *
- Estarei aqui.. aqui..
*saltava do galho poucos passos apos a mulher de cabelos tão brancos quanto os seus.. e poucos passos a frente da jovem sentada ao coreto. e agora Fear? Para onde ir?*

§Sadness§: *A noite todos os gatos eram pardos, Sadness ao menos pensava desta forma em sua tristeza que tinha sido um pouco aplacada por conta da garota de olhos castanho mel brilhantes. estava absorta em seus pensamentos. nas palavras de Hope. Ela tinha dito palavras sábias. Poderia ter perguntado a ela se valia a pena continuar daquela forma, mas respeitou a sua saída. O momento de sua fuga quando a esperança começou a querer iluminar sua obscura alma. Não... não.. não era de uma estranha que ela queria ouvir o que ouviu de Hope.. e o som do baque de alguém caindo esparramando as gotas de uma poça d'água um pouco mais atrás dela, acaba por chamar-lhe a atenção. Sadness se virava, vendo aquele rapaz ali com o olhar assombrado, com roupas que mostravam que ele não estava vindo de casa.. e muito menos poderia estar vindo de uma festa. Sadness descia os olhos cinza como um dia nublado e triste vislumbrando o franzino corpo de cabelos brancos um tom mais claro do que os fios cinza que ela possuía na cabeça.. Via aquela pulseira plástica presa ao pulso. Sabia o que era aquilo. Sabia reconhecer uma maldita pulseira daquela.. pois já chorara ao leito de um amigo que em seu desespero cometera um ato contra a própria vida. Já se amaldiçoara por não ser mais forte e conseguir manter o amigo ali a salvo de atos como aquele.. e então a tristeza da lembrança retornara a mente de Sadness e o suspiro delongado e espaçado mostrava novamente a vontade de chorar diante de sua fraqueza*
- Por que eu não consegui ajudá-lo?
*murmurava abaixando a cabeça, começando a esquecer as palavras que Hope tinha dito mais cedo*
- POR QUE EU NÃO CONSEGUI AJUDÁ-LO!!!
*lembrava-se de tantos outros que morreram.. tantos outros que ela não conseguiu estar presente para que o ato fosse consumado.. esquecendo-se completamente que era ela quem estava mais próxima de dar o próximo passo*

§Hope§: *Hope se mantinha sentada, sentia a água bater em seu corpo, não iria sair dali, gostava da chuva, sentir seu corpo molhado... Estava lavando sua própria alma, tinha medo de cair num precipício de onde nada pudesse tirar... Fechando os olhos sentiu seu coração apertado, porque estava assim, mal conhecia aquela mulher, não tinha porque ficar assim, mas tinha esperanças nas pessoas, sabia que ela ia voltar... Hope conhecia bem aquele lugar, aquele coreto já a viu chorar tanto por tantas coisas, mas sempre a viu se levantar com esperança no olhar e passos decididos, agora a via novamente sentada esperando algo acontecer. Ao ouvir o barulho de Fear, Hope levantou a cabeça abrindo os olhos, aqueles olhos mel cheios de esperança em tudo, podia ser a ajuda que esperava, abriu um belo sorriso, procurou com o olhar, a falta de luz dificultava as coisas, olhou para as nuvens com um olhar implorou que pudesse ver quem tinha feito tal barulho, respirando fundo voltou a olhar para frente na direção do som, quando um raio caiu, seu corpo tremeu quando viu as duas figuras, se acalmou quando reconheceu Sadness, mas não sabia quem era o outro... ou o que ele poderia fazer a Sadness e a ela mesma... Mas mantinha-se parada olhando aos dois de longe. Mesmo afastada dos dois pode ouvir a pergunta de Sadness... fechou os olhos um pouco e começou a se levantar, balançou a cabeça e murmurou. *
- Porque... Este porque é difícil de responder...
* Ficou quieta por alguns instantes e balançou a cabeça observando os dois agora de mais perto, abriu um sorriso para os dois.*

§Fear§: *Fear estava cansado.. estava tão cansado de tantas coisas, das palavras de seus pais que o levaram para aquela clínica achando que assim curariam o mal que ele tinha.. Mas não.. não havia cura para o que ele sentia desde sempre.. não havia cura para os passos que tomaria... a respiração acelerada, o suor frio que lhe escorria pelo rosto misturando-se às gotas de chuva e a mulher de cabelos mais claros virava para ele,.. Fear deu um passo para trás. As mãos prendiam-se aos botões da camisa, deixando ver melhor a pulseirinha que identificava pacientes daquela maldita clinica, onde todos não passavam de números que indicavam quantos lexotans se tomariam no café da manhã.. ela virava-se entre murmúrios.. e ele virava o rosto na direção da outra mulher. do coreto distorcido que ganhava ares ainda mais horrendos pela chuva que lhe embaçava a vista.. estremeceu e não saberia dizer ao certo se era do frio causado pela roupa de tecido fino ou mesmo da própria carne que lhe pregava peças.. e mais uma vez voltava o rosto para a mulher de cabelos claros.. ela parecia angustiada.. triste.. ele conhecia tão bem aqueles sentimentos, eram quase palpáveis aos seus dedos.. e temerosamente ele esticou a mão em direção a ela.. os olhos.. *
- aqui..
*murmurava para si enquanto balançava o corpo numa tentativa de acalmar a própria alma.. mas era tão difícil.. eram tantas coisas que se misturavam em sua cabeça, tantos fatos.. tantas frases.. tantos gostos.. tantas decepções.. e por vezes tentou desistir.. os olhos castanho avermelhados desciam do rosto angustiado da mulher para a cicatriz no próprio punho.. e lembrava-se.. lembrava-se da sensação de quase paz quando tinha o sangue a se esvair de seu corpo.. mas lhe tiraram o descanso para ser jogado mais uma vez naquele mundo deturpado que enxergava.. era palpável e estava quase a tocá-la..quase.. mas o grito.. o grito que ela dava o fez recolher a mão num arregalar de olhos.. e mais passos para trás eram dados.. e ele gritava.. devolvia em gritos histéricos o clamor que ela acabara de soltar da própria alma*
- AAAAHHHHHH.. POR QUE!?!??! POOOOR QUEEEEEEE!!??!?!?!
*E o raio.. o maldito raio que iluminava as criaturas que poderiam ter naquele lugar.. e por que tinha ido para lá?! Por quê?! cobria a cabeça com os braços como podia.. queria correr.. queria sumir.. arrancar de si cada fragmento de pânico que possuía.. e a voz da segunda garota se fazia escutar.. ele erguia os olhos para a mulher.. a respiração entrecortada mal o deixava focar a visão*
- Por quê?
*era uma única pergunta.. para tantas outras perguntas que brincavam de rebater-se em sua mente.. *

§Sadness§: *Sadness queria se entregar àquela tristeza que a consumia. Queria deixar que o sentimento a levasse. As pessoas se esqueciam que ela se preocupava com elas. Viam-na chorar quando eles estavam tristes. Consumia a própria dor deles como se esta fosse sua. O rapaz estava tão amedrontado. Chegou a ficar tão desesperado em uma outra hora, que a fazia se lembrar de tantos outros que chegavam para ela dizendo que iriam se matar, pois a vida não valia mais a pena. E ela? Por que ela tinha que se manter forte quando ela queria chorar? Quando ela queria sumir do mundo e que estes mesmo que tentaram achar maneiras mais fáceis chegavam-lhe a dizer coisas que apenas a tacavam mais para o fundo do abismo? Por que ela não podia se entregar se estava fadada àquela vida triste e cinzenta que ela levava. Por momentos de alegrias que eram raros e que em um piscar tornavam-se lágrimas e mais lágrimas? Mas a Voz de Fear vinha de modo fraco*
- "Aqui..."
*Sadness pode ver então os olhos tão cinzas quanto os cabelos dela naquela noite tempestuosa iluminada pelos raios. Pode ver toda a tristeza guardada naquela alma que franzia o cenho naquela dor que apenas a tristeza conseguia exprimir, quando ele recolhia a mão, com os olhos castanhos avermelhados arregalados em completo pavor. E ele gritava. gritava tão angustiado quanto ela gritara. tentou deixar de escutar o que ele podia escutar e então Sadness se ajoelhava e abaixava a cabeça.. deixando a chuva mais uma vez fazer o que deveria fazer*
- Por que vocês escolheram o caminho mais fácil?

§Hope§: *Ia se aproximando devagar, nunca corria... não precisava correr, ao menos achava isso, a chuva batia em seu corpo e fazia pequenos filetes caírem escorrendo pelo rosto da garota e também pelos fios de cabelos, Hope suspirou observando agora o rapaz, nunca vira alguém com tanto medo daquele jeito, se lembrou de um tempo atrás, quando ainda não tinha esperança em nada. Mais um grito, seu coração disparou, forçou a vista para poder ver o que estava acontecendo mais a frente, vendo os dois, agora o rapaz a olhava, parou de andar um pouco e respirou fundo, mais perguntas... Todos tinham a mesma pergunta... porque... mas Hope não tinha as resposta... estava a procura delas... voltou a caminhar quando viu Sadness cair ajoelhada novamente... fechou os olhos, pensou em correr dali e deixá-los a mercê do destino, mas não era assim que agia, não conseguia... aproximou-se dos dois, olhou para Sadness e balançou a cabeça, olhando para Fear murmurou em resposta.*
- Por medo... *Voltou a olhar Fear e pensou em abraçá-lo como tinha feito com Sadness, mas resolveu ficar parada, seus olhos se encheram de lagrimas, mas quem iria ver que era lagrimas, pois a chuva limpava seu rosto a medida que cada lagrima escorria... Parada murmurou.*
- Por que tem medo? Porque vocês tem medo da vida? É tão triste viver?

§Fear§: *E novos passos eram dados por Fear para trás.. Os olhos castanho-avermelhados alternavam entre olhar para as duas mulheres. E sua cabeça estava tão confusa.. confusa por tantas coisas que já lhe haviam ocorrido.. e o ruído da chuva não parecia ajudar. O ruído da chuva.. as gotas que lhe encharcavam o rosto.. o grito da mulher de cabelos acinzentados o fazia gritar ainda com maior fervor.. por que ela não calava a boca? Mas era ela, ou eram as vozes que estavam todas em sua cabeça, falando, falando.., falando.. o que ele deveria fazer.. para onde ir, com quem falar o que fazer.. ele não queria mais escutar.. tinha medo.. tinha medo de dar um passo para frente e este passo o levar direto para o precipício que se formava diante de seus pés. Mas como,.. estava no parque há poucos instantes,.. estava perto do coreto.. e sim.. o coreto era tão feio.. mas deveria ser belo.. ele batia com a mão na própria cabeça, esfregando os cabelos de um branco imaculado. Por que não morria? *
- Por quê?
*murmurava balançando a cabeça, escutando a voz da mulher retumbar em sua mente.. em suas memórias.. "Por que Fear? Por que escolhe sempre o que te machuca? Por que este medo de seguir adiante.. de dar o próximo passo? Se olhar muito para o abismo.. ele olha para você.. salte.. pule.. pule o abismo!" Mas ele não fazia.. ele nunca fazia.. não quando se sentia como agora, acuado.. por dois lados.. e os olhos castanho avermelhados mais uma vez voltaram para a mulher que se aproximava do outro lado.. e havia algo tão bom que parecia vir dela.. tão acalentador.. e ela também falava com ele? Ele balançava a cabeça assustado.. sacudia os fios repicados que lhe caiam sobre o rosto*
- Medo? Não.. medo..
*e eram flashes que vinham.. flashs de um tratamento doloroso a que era submetido a todo dia.. a todo instante naquela maldita clínica, a garota do coreto se aproximava, mais dois passos que ele dava para trás abraçando o próprio corpo.. precisava se concentrar.. precisava se acalmar e não ver as formas que elas aparentavam.. precisava ver como as coisas eram.. *
- as pessoas tornam o viver doloroso...
*sentia as costas molhadas baterem no tronco seguro do carvalho, daquele carvalho que há alguns dias o abrigava.*

§Sadness§: *Sadness erguia a cabeça na direção de Hope que se aproximava, mordia o lábio e abaixava a cabeça sacudindo-a de forma vigorosa em uma negação tentando espantar de sua mente aquelas palavras "Por Medo... Porque tem medo? Porque vocês têm medo da vida? É tão triste viver?" e Sadness mordia o lábio. O coração era um fardo pesado. ser alegre era um fardo pesado. Uma tarefa árdua e então Hope pode ver o franzir do cenho de Sadness.. pode ver uma raiva contida naquela tristeza que a consumia*
- Eu não tenho medo de viver.. mesmo que a vida seja uma tremenda injustiça... mesmo que as pessoas apenas se lembram dos amigos quando estão na pior...
*estava claro para ambos.. Hope e Fear, que Sadness continha dentro de sua alma toda a tristeza que ela carregara durante anos*
- Mesmo que as pessoas mintam por não ter coragem de falar que não são felizes perto de você... Então me diga...
*ela rebuscava o ar com aquela voz embargada de choro contido*
- Me diga como levar em diante a vida se o que eu vejo são rios de lágrimas.. São prantos derramados no frio e escuro mundo,... Me diga... Por que se torna tão difícil arrancar esta dor que assola o coração, quando um simples passo.. um simples puxar de gatilho.. findariam com tudo isso.. findariam com as lágrimas.. com a dor.. com o vazio.. com o silêncio das pessoas que você espera ouvir uma palavra a cada dia de sua débil vida...

§Hope§: *Hope olha para os dois, vendo a reação de Fear se afastar... Para observando, estica uma mão quando ouve o que fala, logo vem a fala de Sadness... Realmente os dois tinham muitos problemas, nenhuns dos dois tinham esperança, ela tremia por dentro, tinha medo e tristeza por não ter forças suficientes para ajudar os dois... As palavras agora fraquejavam... fechou os olhos e murmurou.*
- Perder a fé nas pessoas é perder a fé em você mesmo... Alguns não vêem saída... *Vira-se para Sadness*
- Mas nem sempre é esta a esperança... nem sempre é esta a saída... O medo, a tristeza, a agonia nos fazem ver as coisas como não são...
*olha para Fear*
- É complicado manter a calma numa tempestade escura e cheia de medo.

§Fear§: *escutava.. não havia como não escutar a mistura de vozes que estava naquele momento... as de sua mente, a da mulher que ajoelhada parecia estar tão triste.. e de certo modo se familiarizava com aquilo. Se familiarizava com o sentimento de tristeza. Ele estava sempre triste? Não.. lembrava que tivera dias felizes também.. era sempre assustado. Desde quando descobria que seu mundo era diferente dos outros... e seu mundo nem sempre era seguro.. mas ao menos ele saia onde estava cada recanto de escuridão... os olhos já não vertiam para elas.. mantinham-se firmes num ponto a frente de si.. "findariam com a lágrima.. com a dor.. com o vazio"... ele tentava controlar a respiração. Havia escutado de um homem no sanatório. Um homem que se atreveu a estar perto dele demais.. sem se preocupar com a violência que as vezes tomava conta de Fear... "quando acuado, ataca.. num ato de desespero.. mas ataca" e o homem lhe dizia sempre. “Fear.. o primeiro passo é controlar a respiração.. quem controla a respiração controla a própria vida.”. e chamavam este homem de louco.. talvez fosse ele um grande sábio, destes incompreendidos e isolados do resto de pessoas "normais" subjetivas que existiam na terra. a outra mulher também falava e parecia tremer a voz.. medo? então ela também tinha medo? ele conhecia muito bem as vibrações que as cordas vocais fazem naqueles momentos. Passou anos estudando isto.. olhando atentamente para as variações do mover da garganta das pessoas.. estudando a forma como as cordas vibravam.. e as dela vibravam pelo medo.. mas medo de que? Ela via as coisas como ele também? Esperança.. ela falava de esperança.. de que não se pode manter a calma numa tempestade escura.. e cheia de medo.. ele sorriu.. sorriu de nervoso ao escutar a frase.. escura e cheio de medo.. meneou negativamente a cabeça. os nós das falanges chegavam a avermelhar-se pelo sangue na pressão que os dedos faziam contra o tecido úmido, contra a pele pálida e fina*
- E o que são as coisas então?
*deixou que a voz saísse em um murmúrio*
- Se não são como eu as enxergo.. como se mostram para mim, dia apos dia.. como elas são de verdade? As pessoas.. as coisas.. a vida.. ela usa máscaras sabia?! Como esta que
você está usando agora..
*e os dedos soltavam um dos braços para apontar para a mulher ajoelhada diante dos dois* - Como a que ela está usando.. eu vejo mascaras.. eu vejo formas.. e não sei.. se o que vejo é o que sinto ou o que são..

§Sadness§: *Então Hope começava a perder a própria esperança? Sadness erguia os olhos cinza em direção à garota.. aos poucos apoiava a mão ao chão enquanto escutava Fear falando sobre como ele via o mundo.. Sadness sabia muito bem que o mundo usava máscara.. que cada pessoa usava máscara.. era impossível ser feliz o tempo inteiro.. era impossível ter esperança o tempo inteiro.. existiam tantos outros sentimentos mesquinhos que tomariam conta tão facilmente de cada ser vivente.. por um momento ela pode mostrar um pouco de raiva.. mas a raiva não era o sentimento intenso que ela vivia.. Não.. Sadness era uma dessas pessoas que fazia os outros a olharem com pena.. a olharem com revolta por ela parecer se entregar e não querer lutar para ter um momento feliz.. um momento de paz.. Sadness era uma dessas pessoas que conseguiam afastar as outras pessoa de perto dela, por elas justamente não agüentarem a realidade em que ela vivia.. Um mundo sombrio.. um mundo de lágrimas*
- Puxar o gatilho seria muito fácil.. traria um fim injustificado... Faria as pessoas se esquecerem que um dia você fez parte de suas vidas.. faria você ser amaldiçoado.. *olhava para o céu tempestuoso*
- Você então se tornaria o nada e não mais habitaria o coração daqueles que você amou um dia... e não há nada mais triste do que isso...
*Baixava a cabeça para Fear e olhava na direção dele com aquele olhar de quem não tinha um pingo de esperança*
- Seria algo terrivelmente pavoroso... Não?

sábado, setembro 02, 2006

Sadness & Hope

§Sadness§: *a cabeça se encontrava baixa... deixando os fios cinzas dos cabelos levemente curtos balançarem-se ao sabor do vento noturno.. a chuva fina se iniciava e as folhas ainda conseguiam sacolejar.. prenunciando a chuva mais pesada que viria... Estava ali.. sentada... apenas deixando os pensamentos se perderem na obscuridão de sua alma.. observava as duas alianças prateada em seus indicadores... lembrando-se de momentos em que falava o porquê delas estarem em tais dedos... suspirava, enquanto os lábios se crispavam levemente para conter aquele sentimento que queria se transformar em lágrimas.. e se mantinha ali.. sozinha.. naquela escuridão.. sem se importar com a fina chuva que agora começava a acariciar seus cabelos... suas mãos.. e suas roupas* §Hope§: *Hope estava observando as nuvens, sempre fazia isso, via o brilho da lua sumir aos poucos, as estrelas, elas nem existiam mais... Respira fundo e fecha os olhos... Olhos cor de mel sempre com um brilho único. Levantou e começou a caminhar indo para qualquer lugar, não precisava de um lugar especifico, ia para onde desejava... Seu coração batia devagar, sua pele arrepiada com o vento, fechou os olhos por alguns segundos para ver se iria mesmo ter coragem para caminhar... Pensou em muitas coisas e logo deu o primeiro passo, era sempre complicado dar o primeiro passo... Hope já estava bem longe de onde estava sentada observando a lua quando sentiu a primeira gota cair em sua pele, arrepiada parou, logo sentou outras gotas caindo, suspirou e desejou algo... deu um sorriso e continuou.* §Sadness§: *Sadness fechava os olhos. deixava o corpo se mover até ficar ajoelhada.. mais uma vez ela se sentava.. agora sobre parte das pernas.. abraçando o próprio corpo. Aquela dor crescia em seu coração.. o ar começa a ser rebuscado, enquanto as primeiras lágrimas começavam a descer pelo rosto de Sadness. O Choro que estava contido começava a escapar de forma baixa, aos poucos ganhando força. A cabeça de Sadness então se ergue, enquanto o choro escapava por entre seus lábios e o coração deixava escapar tudo que ela conteve por tanto tempo. Nem mesmo a chuva que caía sobre seu corpo, parecia ser capaz de limpar as lágrimas de sua face, ou de trazer alívio para o coração ferido* §Hope§: Os passos de Hope seguiam tranqüilo, a água caia no corpo e a molhava, suspirando parou ao longe vendo alguma coisa... Primeiro pensou ser uma pedra, mas pedras não se mexiam... Agradeceu pelos raios que iluminavam a paisagem... começou a seguir em direção daquele ser, não gostava de ver ninguém amuado ou triste... Fechou os olhos, ao abrir os lábios para sua voz sair parou, ficou estática por alguns segundos... Tinha algo de errado, parecia não conseguir falar... Parecia que ali não tinha esperança só uma grande sombra de tristeza... manteve os olhos fechados por alguns segundos e logo abriu começou a caminhar seguindo para a direção da pessoa, mas sem falar nada... Só ficou olhando. §Sadness§: *O choro continuava. Um choro sofrido que parecia expor toda a tristeza contida naquela mulher de vestes escuras. Os poucos raios que iluminavam a noite podiam faze Hope se confundir com os tons dos cabelos que aquela mulher possuía. Cinzas. nem muito claros.. nem muito escuros.* - POR QUÊ? *Gritava em meio aos prantos como se buscasse alguma explicação para o que quer que fosse que a estivesse atormentando naquele momento. Sadness mais uma vez abaixava a cabeça, deixando que os fios molhados de seus cabelos pendessem para frente, deixando algumas gotas escaparem e pingarem sobre as pernas.. deixando que alguns fios se prendessem à sua face. Mal poderia perceber mesmo com os raios a iluminar a escura noite, que alguém se aproximava e que ela não estava mais chorando sozinha no escuro.* §Hope§: *Fica com vontade de responder, mas não sabia o porquê... Fica olhando por mais alguns segundos quando decide levar a mão ate o rosto de Sadness e tirar um fio do cabelo que estava grudado, sabia que isso iria dar um bate boca, mas fazia, não conseguia ficar sem tentar ajudar... respira fundo, o vestido todo colado já no corpo de Hope... os cabelos longos e cacheados agora todo escorrido e colado no rosto e pescoço, mas mesmo assim Hope mantinha um belo sorriso e o olhar brilhante... a água parecia aumentar o brilho dos olhos.* -Algum problema? *A voz saia em um tom baixo e quase sem força... O vento batia em seu corpo e fazia tremer...* §Sadness§: *Sadness sentia um fio que estava grudado em seu rosto ser afastado e mesmo assim mantinha o olhar ali... voltado para o chão. Há tempos as pessoas não se importavam com ela... Há tempos estava sozinha, sem poder gritar tudo que estava preso em seu coração. As lágrimas de Sadness se misturavam com a chuva e os olhos dela pareciam tão claros... mas ao mesmo tempo tão... inexplicavelmente tristes... como se ela carregasse toda a tristeza do mundo em sua alma.* - Vou sobreviver... *Fala depois de um suspirar delongado em que ela apertava os dedos com mais força nos próprios braços e aos poucos ela erguia o corpo olhando para Hope que mantinha um belo sorriso aos lábios.* §Hope§: *Hope fica meio que bloqueando as gotas da chuva que caiam. Hope olhava para ela com um carinho diferente... Respira fundo e afirma a cabeça.*- Eu sei que vai sobreviver... Todos normalmente sobrevivem... O problema é como se sobrevive... * Balança a cabeça arruma os cabelos de Sadness e sussurra.*- Quer sair daqui da chuva, ou quer chorar? §Sadness§: *Sadness observava aquele olhar. Um olhar que muitos esperam de alguém. Um olhar que tantas vezes ela pediu de forma silenciosa e este mesmo olhar fora-lhe negado. Por que confiar naquela que estava ali, naquele exato momento, sendo compreensiva com ela? Quantas vezes ela tentou se abrir para alguém e a resposta lhe veio de forma tão negativa?* - Por que se preocupa com uma estranha que está a chorar na chuva? *Murmura, recuando um passo quando Hope mais uma vez tentou ajeitar os cabelos cinza que complementavam aquele quadro desolador de quem se entregou completamente à tristeza.* - Por que se preocupa em trazer palavras de esperança para alguém que já se encontra no mais profundo momento de dor? §Hope§: *Hope fica olhando para ela, observando cada movimento dela, as duvidas e as tristezas... balançou a cabeça e abriu um belo sorriso, os olhos se fecharam um pouco e logo abriram assim como seus lábios.* -Por que não fazer isso? *Se aproxima dela um pouco olhando para os olhos dela.* -Exatamente para não deixar alguém no mais profundo momento de dor... Eu já passei por isso e sei que muitas vezes só um olhar e um sorriso ajudam. *Respira fundo e olha para frente... Hope indica um lugar mais fechado onde a chuva não caia tão violentamente... * -Vamos... Saiamos um pouco da chuva... mesmo que não queira falar nada... só para esperar a chuva diminuir, às vezes a dor só passa se tiver alguém do lado... *Falava calma olhando para Sadness* §Sadness§: *Hope poderia ver que os olhos de Sadness eram claros, mas que ficava difícil descobrir a cor por esta estar arredia e por que os raios agora ficavam mais espaçados, indicando que a chuva não iria demorar muito. Sadness voltava os olhos dela para o local indicado por Hope e começava a caminhar ao lado daquela estranha garota que tinha vindo para lhe ajudar.* - E como foi sobreviver? *murmurava as poucas palavras que pareciam não se completar. Voltando a cabeça para cima e tomando a chuva na face, abraçada ao próprio corpo* - Por que mais pessoas não compreendem? *Voltava a abaixar o rosto, deixando que os fios cinza voltassem a deixar as pesadas gotas da chuva caírem ao solo* §Hope§: - Foi difícil... a princípio achei que não daria nada certo e que o que estava fazendo era insuficiente... Pensei ate em deixar tudo para traz e acabar com tudo... Doía pensar e imaginar as coisas... *Olha para Sadness seguindo e ia mais ou menos do lado, não iria se atrever a chegar muito perto ainda mais porque a própria Sadness tinha dado este limite.* - Porque mais pessoas não são assim... Provavelmente porque nunca tiveram isso, nunca ninguém as ajudou quando precisavam ou se ajudou logo cobraram alguma coisa. *Falou isso num tom meio chateado.* - Mas não se preocupe... Não vou cobrar nada de você... assim como ninguém cobrou de mim... §Sadness§: *Sadness caminhava com calma, talvez por que a chuva estivesse lavando de sua alma uma parte da dor que ela sentia naquele momento. Como se a chuva pudesse carregar tudo que a angustiava e que lhe trazia lágrimas. Mas a chuva não duraria para sempre* - As coisas nunca foram insuficientes... *murmurava de forma baixa* - Mas eles nunca estão contentes *os olhos de Sadness se mantinham fixos no chão, compreendia que até aquela moça teve seus momentos de dor. De Angústia. E que teve seus momentos de lágrimas derramadas* - Será que elas só pensam na dor delas? Será que elas são incapazes de ver que os outros também sentem dor? Que também precisam chorar.. que não são portos seguros pois são tão frágeis quanto eles? *Hope podia sentir na voz de Sadness a vontade que ela tinha de chorar novamente. Podia ver os punhos cerrados e o abaixar da cabeça como se contivesse dentro dela toda aquela dor* §Hope§: *Hope seguia olhando para Sadness... ficou a pensar o que tinha acontecido com ela para estar tão triste... Pensou em perda, será que perdeu algum ente querido... ou coração partido... ou falta de atenção de alguém que pudesse dar atenção ou carinho... começou a ouvir, mas não entendeu bem o que falou por estarem ainda no meio da chuva e também por estarem um pouco mais longe uma da outra... deu alguns passos a mais e se aproximou ouvindo agora o que ela falava.. levantou a cabeça virando-a para ela, mordeu o lábio ouvindo a pergunta... Fechou os olhos e parou pensando no que falar.* - Certamente... Você está certa... quem nos ama, que nos acha forte e decidida... nunca vai pensar que somos delicadas e frágeis... pois dificilmente mostramos isso.. Nunca mostramos que precisamos de um porto seguro e sim que somos um porto seguro... *Ficou quieta e voltou a caminhar.* - Aí quando nos vêem chorar e cair por chão em mil pedaços toda perdida no espaço não sabem como lidar, afinal sempre precisaram de força, nunca precisaram dar força... Algumas pessoas conseguem segurar esta barra... outras...por mais que tentam.. não conseguem... se sente perdidas e vêem a única resposta sumir, se perder... nos deixando no escuro... com nossos medos e receios... nos deixando fragilizada... §Sadness§: *A garota realmente parecia ter passado por algo parecido. Apenas as pessoas que tinham passado por momentos como aqueles sabiam exatamente como era ser lançada para o lado e receber o silêncio como resposta. Hope então pode escutar um suspirar longo vindo de Sadness* - As pessoas... *Mais uma vez suspirava Sadness vendo que o local protegido pela chuva já estava próximo* - Não se importam... Ou parecem não se importar... §Hope§: - As pessoas tem medo de se importar e se ferir no meio do caminho... É difícil alguém ter coragem suficiente para superar o medo e seguir em frente, ajudar uma pessoa estranha que parece precisar muito de alguém para simplesmente... *Aproxima-se e passa a mão no rosto dela, como se tivesse limpando as lágrimas dela.* - Limpar suas lágrimas... §Sadness§: *Mais uma vez Sadness sentia aquela mão que se aproximava e que limpava suas lágrimas. Que compreendia ou parecia compreender muito mais do que muitos poderiam compreender. Mas não diria a Hope, que aquele simples gesto tinha sido forte o suficiente para que os pensamentos dela esquecessem algo que vinha atormentando sua alma. Como um sussurrar a mostrar qual era a única saída, Hope parecia ser uma pessoa que não via outra pessoa angustiada, necessitando desabafar... Necessitando chorar por não ser mais forte do que as outras pessoas e ver aquilo tudo como uma dramatização ou o exacerbar dos sentimentos. A cabeça de Sadness se abaixava e com calma levava sua mão à de Hope.* - Obrigada. *Sadness murmurava com a voz embargada, ainda com muita tristeza no coração, pois desejava no fundo de sua alma que aquele gesto, que aquela compreensão, viesse não apenas de estranhos que pareciam se sensibilizar com a dor dela. Mas que viesse especialmente daqueles que a conheciam* - Que seus caminhos nunca encontrem as tristezas que assolam o meu coração. *Sadness erguia o olhar e então Hope pode ver finalmente a cor dos olhos daquela que carregava a tristeza em sua alma. E os olhos de Sadness eram tão cinzas como o mais nublado dia* §Hope§: *Hope olha pra ela, ouvindo as palavras... Meneia a cabeça e sorri.* - A tristeza é parte da vida... sempre vamos encontrá-la, pode ser por alguém que não fale algo... alguém que não saiba como agir com a gente... ou por culpa nossa mesmo... Mas sempre temos que manter a esperança... Pois, por mais triste que possa parecer... as coisas mudam, é só a gente querer... *Hope via os olhos cinza e suspira, ainda mantinha o sorriso.* - Vamos, de um sorriso... por mais que a gente pense... a tristeza é como a chuva... ela pode ser demorada... devastadora... mas no final... ela passa... e sempre temos como reconstruir tudo... *Hope segura a mão de Sadness e puxa-a para a direção do coreto e sorri para ela.* - Até nas piores tempestades, achamos algo ou alguém para nos ajudar... e assim que ela acaba criamos forças para seguir em frente... §Sadness§: *Sadness escutava as palavras de Hope. Palavras sábias de alguém que resolvera enfrentar a chuva e retirá-la daquele momento obscuro em que ela se encontrava. Mas Sadness ainda não se sentia bem o suficiente para sorrir. Sentia Hope a puxando para baixo do coreto, para que ambas não tomassem mais chuva alguma. Mas Hope mais uma vez sente a mão de Sadness escapar de suas mãos e então pode ver aquela moça de cabelos e olhos cinza recuando os passos com cuidado, descendo do coreto. Talvez ela ainda não estivesse pronta para aceitar palavras de esperança e Hope pode ver Sadness mais uma vez na chuva.* - Mais uma vez obrigada... Obrigada por enfrentar esta tempestade ao meu lado... Obrigada pela esperança que você tentou trazer à minha pessoa... *Sadness se virava, dando as costas para Hope, voltando a abraçar o próprio corpo. Voltando a se afastar. Voltando a abaixar a cabeça. Aquela noite ela não iria mais chorar. As palavras de Hope tinham sido fortes o suficiente para que ela agüentasse mais um dia.. mais uma noite.. mais um tempo que fosse.* §Hope§: *Hope para, ainda na escada do coreto quando Sadness solta sua mão, virando o rosto olhando para ela... Respira fundo... Iria perguntar uma coisa... Se valia mesmo a pena ficar assim, mas ela mesma sabe que sempre vale a pena... Hope só sorri... Queria poder fazer mais, mas não adianta... se movendo de leve e sentando olhando para ela... vendo-a se afastar, não sabia se tinha ajudado ou não... não sabia o que aconteceria, mas tinha esperança de que o que tentou fazer mudasse Sadness, não radicalmente... não instantaneamente... pois mudanças assim não são mudanças reais... mais mudanças aos poucos... Levantou-se e passou a mão nos cabelos, ainda mantendo o belo sorriso falou um pouco mais alto para Sadness ouvir.* - Se precisar... estarei aqui... não importa o quanto a tempestade esteja forte... não importa o quando escuro e frio esteja... estarei aqui para ajudar... Você pode perguntar... Por que... eu te respondo... Porque... *Respira fundo e fechando os olhos.* - Quando estive na mais profunda solidão e tristeza o que mais eu precisava era de um apoio... e consegui assim de um estranho.. Que se tornou mais do que um estranho e sim um amigo... *Hope falou isso e voltou a sentar na escada do coreto, não ligava para a água caindo no seu corpo... pois sabia que logo iria parar e tudo voltaria ao "normal"* §Sadness§: *Sadness escutava os gritos de Hope... Gritos em que ela dizia que sempre que precisasse ela estaria ali.. que ela sempre a responderia.. que nem uma tempestade forte, nem o frio e a escuridão a fariam deixar de ajudá-la. mas os passos de Sadness continuaram naquela chuva e Hope não pode ver o sorriso fraco que surgiu nos lábios de Sadness... Era estranho como naquele momento uma verdade mais uma vez se mostrava forte. Como os estranhos poderiam vir a ser os melhores ouvintes da Tristeza. * - Um dia... quem sabe? *Murmurava e continuava seus passos sem olhar para trás. Que aquele coreto viesse a ser o possível encontro de Sadness e Hope mais uma vez em um dia menos tempestuoso*