segunda-feira, junho 09, 2008

Angústia

O coração bate acelerado nesses momentos em que a mente não para. Malditos sejam as frases batendo como um pêndulo de sino.
- Você não tem dinheiro!
Dong! É o primeiro badalar daquela voz sibilada que só aperta o peito, mantendo meus olhos vazios e distantes e tantas outras frases ligadas a esta primeira batida, ressoam em minha mente, obrigando-me a rebuscar o ar várias vezes. Suspiros exasperados. Seria isso o que pensaria quem dizia aqueles tipos de coisas.
- Você é um fraco!
Dong! Vem o segundo badalar que fecha meus dedos com tamanha força e nem mesmo noto que o roer de unhas passou a ser um crispar de lábios e os dentes a roçá-los. Realmente não dava mais para controlar o compasso do coração e a mente agora ecoava aquelas duas frases.
- Seus amigos de nada valem!
Dong! E o terceiro badalar já está passando dos limites. A cor do mundo foge aos meus olhos, ou talvez ele esteja se pintando com outras cores. O corpo já mostra alguns tiques necessários para que eu não me descontrole. Mas esta voz sabe bem o que dizer e onde atingir. Ah! Maldita voz sibilante, porque não vai para longe de mim.
- Você ficará só!
Dong! O quarto badalar foi demais. Ah! Não! Agora aquela voz foi longe demais. Já escutei tantas outras coisas daquele velho tique-taque sádico, daquelas frases que se repetia como discos arranhados que meu corpo se ergue com os olhares já furiosos.
- Vamos lá! Diga que mais uma vez estou certa!
Aquela cobra sibilava. Maldita víbora que tentava me fazer perder o controle, arrancar lágrimas de meus olhos, depois de cravar suas presas em meu coração e dilacerar a minha alma.
- Repita, é tão fácil. Você sabe que é verdade!
Não. Não é verdade, não posso deixar isso se tornar verdade. Não posso deixar isso me dominar mais uma vez e é então que eu sinto...
Meu coração mesmo que ainda apertado, sente aquele abraço mais apertado ainda. Um respirar tão fundo quanto o meu, que não me dizia palavras e ao mesmo tempo me dizia tudo que eu necessito escutar.
- É uma ilusão. Não a escute, ela apenas o arrastará mais para baixo. – A voz sibilada já sentia uma pontada de desespero e eu apenas sorrio.
- Não sei por que ainda te deixo me abalar.
- Por que sabe que digo a verdade. – retruca aquele sentimento horrível.
- Mas a sua verdade não é a minha. Nunca será.
Respiro mais aliviado, ao ver o sorriso de quem me abraçava e se mantinha ao meu lado e com um abraço forte, deixo-a curar as minhas feridas e levar para o abismo aquele sentimento que não queria me deixar em paz.

domingo, junho 08, 2008

Ciúmes

Estava à frente da tela. Pensativa. Sentindo o indicador a pressionar o lábio.
Por vezes erguia os olhos, observando a tela branca.
- O que tanto pensa?
O calafrio percorreu-me por toda a pele ao escutar aquela voz baixa e sussurrante. Havia tempos que ele não aparecia e suas mãos chegavam a pesar-me aos ombros.
- Seus olhos estão se estreitando novamente.
Continuou sua conversa, vendo que me mantinha em silêncio e seu hálito cálido deslizava-me à orelha.
- Tem negado seus instintos. Seus medos. O que pretende?
O frio daquela conversa estremeceu-me o corpo. Como eu odiava sua presença. Mais uma vez abria meus olhos, sabendo que o brilho contido neles havia mudado.
- Esta é a minha garota! – Dizia-me isso quando começava a observar a minha alma ficando sombria.
- Vamos lá! Não é tão difícil. Você sabe como fazer, sempre soube.
Ele estava certo. Eu realmente sabia o que fazer, como e quando. Seria fácil ignorar o frio que tomava posse de meu corpo enquanto meus olhos se mantinham presos à tela.
- Respire fundo, seu coração precisa desacelerar. – falava quase me ordenando e meus lábios contraíram-se, buscando meus dentes que os morderiam.
- Por que está tão difícil desta vez? – Estava incrédulo ao ver que meu coração continuava acelerado e que meus dedos não se moviam da forma que ele gostaria que se movessem.
- Por que continua a lutar? Não vê que está se torturando? – Repreendia-me ao ver que eu respirava fundo e passava a mão ao rosto.
- Será que é tão difícil de compreender que este tipo de pensamento é tolice? – Mais repreensões e meus olhos se fechavam. Respirei fundo e mais uma vez fiquei pensativa. Um sorriso com os cantos dos lábios e meus olhos se prendia ao espaço branco que se mantinha ali.
Meus dedos foram percorrendo as teclas, sentindo minha mente esvaziando. As horas corriam fugidias, enquanto o calor de um abraço parecia me confortar. Confortava-me à mente e ao coração, enquanto rosnados e passos pesados tornavam-se mais altos. Os sons de livros jogados ao chão, acompanhavam a sensação das costas sendo rasgadas.
- Não é isso que eu quero! Não é isso que deve fazer! – Vociferava ao lado do meu rosto e mesmo assim meu olhar se mantinha fixo, quase vazio, diante das letras que surgiam.
- Pare! Eu ordeno! – E nesse momento meus olhos fitaram o vazio.
Não haveria cigarros naquela noite, muito menos a dor no coração com possíveis pensamentos induzidos. Não surgiriam desconfianças e muito menos telefonemas. Não teriam conversas extenuantes e muito menos lágrimas e por mais que eu ainda escutasse aquela voz maldita, um sorriso surgia aos meus lábios.
- Não sei por que te dou ouvidos. Você sempre me fez mal. – Murmurei enquanto encerrava o que escrevia e ainda pude escutar o rogar de uma maldição.
- Por que faço parte de você, por todas as vezes que a feriram. Sou sua auto preservação, sou aquele que te dá abrigo.
Ri. De forma baixa, mas ri e respondi de forma calma.
- Não. Você é quem mais me fere, quando vem com suas palavras sussurradas. Você é quem me leva de volta para o abismo. Você é quem me faz derramar as lágrimas e você é justamente de quem eu não preciso.
Um respirar exasperado e pude vê-lo partir nessa noite de batalhas vencidas e meu sorriso se alarga antes mesmo que eu termine meu texto.
Um abraço confortável, um sorriso belo e aqueles olhos que tanto desejo, surgem belos imponentes mandando de volta ao abismo o pior sentimento que surge em minha mente.